quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A culpa é da chuva?

“Nem bem entra o verão e os jornais começam a estampar as fotos de enchentes e a contabilizar os mortos. Começa também, o jogo de empurra. Políticos se apressam a culpar as chuvas “sem precedentes”; a oposição responsabiliza os governantes; e técnicos acusam a ocupação do solo”, escreve na Folha de S. Paulo (3 de dezembro) o colunista Hélio Schwartsman.

Mais adiante, depois de lembrar que humanos, somos péssimos avaliadores de riscos, o jornalista comenta que não que precisemos virar pluviófobos, mas seria bom encontrar maneiras mais eficientes de fazer com que leigos, técnicos e políticos tenhamos uma avaliação mais realista e vívida dos perigos hodiernos. “Um exemplo: o risco relativo de a pior enchente do século ocorrer nos próximos 12 meses é baixo (1%). Poucos além das empreiteiras e a turma dos 10% apoiariam fazer um grande investimento para preveni-la. Mas, se indicarmos a probabilidade de a inundação do século ocorrer nos próximos cinco mandatos (20%), a situação já muda de figura. Desprovidos das defesas instintivas, uma boa comunicação do risco, que mobilize emoções sem falsear os dados, é nossa melhor chance”.
A contagem de mortos e desalojados segue. O Jornal do Brasil (dia 4) conta que as chuvas deixam dez mortos em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. No Rio, 3.108 moradores das regiões afetadas estão desalojados e 707 desabrigados. O número total de deslizamentos chegou a 367 e de casas destruídas, 84. Ainda no JB (dia 5) vem o alarme sobre dique rompe em Campos: 4 mil pessoas serão retiradas de casa.”Mil famílias foram afetadas. Atualmente, 590 pessoas estão desabrigadas no município”.
O uso político de verbas contra a cheia se repete. O Globo escreve, dia 4, que a presidente Dilma Rousseff fez uma intervenção branca no Ministério da Integração Nacional, chefiado pelo pernambucano Fernando Bezerra (PSB-PE). “Em dezembro, o ministério listou 56 cidades do Sul e do Sudeste como prioritárias para receber verbas, mas Pernambuco e Bahia, estado do ex-ministro Geddel Vieira Lima, foram os que mais receberam: R$ 34 milhões e R$ 32 milhões. Só 30% do previsto no Orçamento para prevenir enchentes foram liberados em 2011″.
Minas Gerais, segundo a Folha (dia 4) já tem 53 cidades em emergência. O jornal Estado de Minas traz o balanço da véspera: 5 mortos desde o começo das chuvas e 9 mil pessoas tiveram de sair de casa. O Estado de S. Paulorecorda que denúncias de uso político do Ministério da Integração também ocorreram na gestão de Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Em 2009, a Bahia levou mais de metade da verba contra desastres.
“É PRECISO REZAR”
Correio Braziliense (dia 5) informa que a chuva afeta 2 milhões de pessoas no Rio e em Minas. Ao mesmo tempo, sabe-se, em O Globo, que Nova Iguaçu, no Rio, um dos 56 municípios prioritários para receber verba de prevenção contra enchentes, só ficou com R$ 2,5 mil em 2011. Mais: técnicos do Crea-RJ concluíram que obras de prevenção não foram feitas em Friburgo antes da temporada das chuvas. “Agora é preciso rezar para não ter enchente”, disse Adacto Ottoni.
O Brasil, quase um continente, vive também o drama da estiagem. No Rio Grande do Sul, conforme a Defesa Civil, passa de 235 mil o número de moradores atingidos pela falta de chuva, que também castiga o oeste catarinense, reporta o jornal Zero Hora. “Estiagem põe 39 cidades gaúchas em emergência”.
INTERNET
Adnews, veículo de informação eletrônica, traz dia 4 a manchete: Aeroportos brasileiros podem ser obrigados a ter internet de graça. (Em setembro de 2006, eu a usei, de graça, na Alemanha, para acompanhar o desastre do choque entre um  avião da Gol (voo 1907) e o jato executivo Embraer Legacy 600, em viagem de entrega entrega a um cliente norte-americano, a empresa de táxi aéreo ExcelAire Services Inc. Estava embarcando para o Brasil no aeroporto de Frankfurt, na Alemanha. Morreram todos os 154 passageiros do Gol. Os ocupantes do Legacy saíram ilesos.)
FRASES
“O repasse dos R$ 70 milhões (para Pernambuco) foi discutido com a Casa Civil, o Ministério do Planejamento e com o conhecimento e participação da presidente da Republica”. Fernando Bezerra Coelho, ministro da Integração Nacional, no Correio Braziliense (dia 5).
“É muita cara de pau. Por isso, Dilma ignorou o ministro e chamou de volta a Brasília a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que está dando uma olhadinha nos programas da Integração e das Cidades para prevenção de enchentes, até porque mais de R$ 500 milhões foram desperdiçados”. Eliane Cantanhêde, no artigo “Intervenção nada branca”, na Folha de S. Paulo (dia 5).
“Como é que se leva o usuário de drogas a se tratar? Não é pela razão, é pelo sofrimento. Quem busca ajuda não suporta mais a situação. Dor e sofrimento é que fazem pedir ajuda”. Luiz Alberto Chaves, coordenador de Políticas sobre Drogas, sobre as medidas para tentar esvaziar a cracolândia, que resiste no centro de São Paulo desde os anos 90. (O Estado de S. Paulo, dia 5)
TEXTO DIVULGADO ORIGINALMENTE EM 
José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.
E-mail: joseaparecidomiguel@gmail.com

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