quarta-feira, 31 de julho de 2013

Superpreocupante

Reportagem “Quanto custa um país”, da revista Superinteressante, revela um cenário muito difícil para o futuro do Brasil.

O Brasil melhora! Contente-se, mas preocupe-se com o amanhã. No mesmo dia (30 de julho de 2013) em que se divulga que Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios brasileiros subiu 47,5% - e vai de 'muito baixo' para 'alto' em duas décadas, em longevidade da população e renda, mas quase 30% das cidades brasileiras têm nota considerada "muito baixa" em educação -, o noticiário destaca fatos assim:

Expansão do PIB segue em 2,28% (O Estado de S. Paulo).

Vendas de shoppings desaceleram (Valor Econômico).

Sobrepreço de R$ 2 bilhões na refinaria - Segundo o TCU, obra em Suape incluiu serviços não previstos originalmente por causa de erros cometidos pela Petrobras. (Jornal do Commercio-PE)

Fortuna de famílias ricas é, na média, de R$ 9,4 milhões.  Existem no Brasil 5.732 famílias ricas (na média, menos de 1 por município, calculo) que investem seus recursos por meio dos gestores de patrimônio. (Há outras alternativas, acrescento.) (Valor Econômico)

Surto de diarréia - Além do Sertão, cidades da Zona da Mata estão sofrendo por conta da má qualidade da água. (Jornal do Commercio-PE)

Plástico ou cimento? Surubim, município de 60 mil habitantes no interior de Pernambuco, começou a receber nos últimos dois meses 1.300 cisternas de polietileno, doadas pelo Ministério da Integração Nacional no âmbito do programa Água para Todos. Muitas estão armazenadas no campo de futebol da cidade. (O uso de cimento está em debate.)(Valor Econômico).

Paulista ganha 21 vezes mais que maranhense (O Estado de S. Paulo).

Falta de regra deixa R$ 18 bilhões de elétrica sem dono. Patrimônio hoje não está mais no balanço das companhias nem da União. (Brasil Econômico).

Ônibus caro: Tarifa acima da inflação no Interior. Em 10 anos, nove maiores cidades fora da Grande Porto Alegre tiveram aumento médio de 105,29%. (Zero Hora-RS)

Fila de banco - O Tribunal Regional Federal da 1ª Região reverteu decisão de primeira instância e considerou constitucional lei municipal de Manaus que estipula tempo máximo 45 minutos de espera dos clientes para atendimento em bancos. (Valor Econômico).

Que falta faz uma escola padrão Fifa – Educação é o  único quesito que ainda não atingiu um patamar considerado alto, apesar de registrar a maior evolução do período (128%). Puxada, vale ressaltar, por mais matrículas, o que não significa um ensino melhor. (Correio Braziliense).

No Brasil, o sistema educacional investe apenas US$ 2.900 por aluno. É três vezes menos que o Reino Unido, e seis vezes menos que os Estados Unidos, segundo a revista Superinteressante de agosto.

Na Folha de S. Paulo, Eliane Cantanhêde escreve que o IDHM confirma que o Brasil, mesmo que aos trancos e barrancos, vai no bom caminho. (...) “O carioca Fernando Henrique e o pernambucano Lula saíram para o Planalto e para mudar a cara do país. Um porque combateu a inflação, elevou o patamar internacional do país, botou a casa em ordem na economia e deu o "start" em programas sociais cruciais. O outro porque manteve uma política macroeconômica saudável e transformou o grande momento mundial em oportunidade para uma inclusão social histórica. (...) Há muito ainda a fazer, principalmente na educação. O último lugar em desenvolvimento humano foi Melgaço (PA), onde metade da população não sabe ler nem escrever. Enquanto houver "Melgaços" no Brasil, gritemos. Oba-oba os governantes já fazem à exaustão”. 

EXPANSÃO DO PIB MINGUA

Na véspera da divulgação do IDHM, o editor de Economia do Correio Braziliense, Vicente Nunes, escreve, na coluna Brasil S. A., “de que adiantará levar adiante a onda de desconfiança (com a equipe econômica) que vai impor ao país o terceiro ano consecutivo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) inferior a 2%?”.

(O PIB é o resultado de tudo o que o país produz, acrescento.)

“Economistas como Tony Volpon, da Nomura Securities, apostam que, na melhor das hipóteses, a expansão da atividade neste ano será de 1,6%. Nilson Teixeira, do Credit Suisse, fala em 2%, mas com viés de baixa. Não se pode esquecer que, em 2012, quando o mesmo Teixeira falou que o PIB avançaria 1,5%, Mantega classificou a projeção como piada. O resultado foi ainda pior: 0,9%”, acrescenta Nunes.

SOMOS POBRES

Por que é superpreocupante?

A Superinteressante, edição de agosto, na reportagem “Quanto custa um país”, de Andreas Müller, Ricardo Lacerda e Bruno Garattoni, editada por Bruno, escreve que o Brasil é o país dos impostos. “E da corrupção. Os políticos roubam muito, e por isso os serviços públicos são ruins. Tudo isso é verdade. Mas não é toda verdade”

O governo, segundo o texto e o infográfico do design Jorge Oliveira, arrecada pouco. “São US$ 4.085 por habitante, por ano – é o que tem para gastar com todos os serviços públicos prestados a cada pessoa. (...) Hospitais, universidades, escolas, polícia, cadeias, tribunais, ruas, estradas, portos, investimentos...

(...) US$ 4.085 (número em dólar, já corrigido pela paridade do poder de compra) parece bastante, só que não é. Países desenvolvidos arrecadam pelo menos o triplo de dinheiro por habitante (os Estados Unidos, US$ 13.429 por ano). Suécia e Noruega arrecadam até cinco vezes mais que o Brasil. Até países subdesenvolvidos, como Argentina e México, arrecadam mais dinheiro do que nós”, escreve a revista.

O Brasil é a sétima economia do planeta. Só que essa produção, segundo a Superinteressante, é dividida por um país com 197,4 milhões de pessoas, a quinta maior população do mundo. “Nosso PIB per capita é de apenas US$ 11,8 mil por habitante, o que nos dá o nada honroso 74° lugar no ranking mundial”.

Margarida Sarmiento Gutierrez, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em finanças públicas, afirma que o Brasil tem um desempenho de país pobre. “Isso significa que, para cada indivíduo que paga muito imposto sobre salário e sobre os produtos que consome, há um monte de pessoas que pagam pouco – porque ganham pouco e consomem pouco. O problema é que o salário médio de contratação, segundo dados do Ministério do Trabalho, é de R$ 1.011. Renda de país pobre, que gera arrecadação de país pobre – e serviços de país pobre. Para piorar, os ricos também pagam pouco imposto”, diz na reportagem.

SOLUÇÕES DIFÍCEIS

Superinteressante propõe quatro soluções. A primeira é acelerar o crescimento da economia. “Se o Brasil dobrar seu PIB per capita (US$ 11,8 mil), dobrará o dinheiro disponível para serviços públicos. Ainda assim ficaríamos bem atrás dos países desenvolvidos, mas alcançaríamos a Coréia do Sul, um bom exemplo de país emergente. Para que isso aconteça, o Brasil precisaria crescer 4,7% ao ano durante os próximos 17 anos. Não é nada de outro mundo. A China, por exemplo, conseguiu crescer em média 9,5% ao ano durante 24 anos seguidos”.

(Recordo que o Brasil poderá ter, em 2013, o terceiro ano consecutivo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) inferior a 2%.)

Outra saída proposta é a busca de novas fontes de energia. A maior delas é o petróleo do pré-sal. “Somando royalties e outras compensações, ele deverá render até R$ 108 bilhões ao governo federal e R$ 171 bilhões para Estados e municípios.

(Todo potencial do pré-sal precisa ainda ser explorado, ressalvo eu. No mais, é torcer, segundo o engenheiro e consultor Humberto Viana Guimarães, para que os campos leiloados na 11ª Rodada (14/05/13) comecem a produzir o mais rápido possível e que o pré-sal torne-se realidade, para que em 2028 possamos, por fim, comemorar sem factóides e ufanismos eleitoreiros, a tão sonhada autossuficiência na produção de petróleo”).

A terceira proposta seria aumentar a tributação. “Se quisésssemos ter mais investimento público, teríamos de aumentar mais ainda a carga tributária”, afirma o economista Darcy Francisco Carvalho dos Santos, especialista em finanças públicas. Superinteressante escreve que a equação é complexa, mas há pistas de como solucioná-la. “No Brasil, 45% da arrecadação tributária vem de impostos cobrados sobre as coisas que consumimos. Nos países ricos, a média é 29%. Conclusão: nós taxamos demais nossos produtos”.

“Os tributos que incidem sobre o consumo são os mesmos para pessoas ricas e pobres”, diz João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBTP). Uma possível saída é reduzir essas taxas, e compensá-las criando alíquotas mais altas de imposto de renda – a máxima, no Brasil, é de 27,5%, “um valor extremamente baixo pelos padrões internacionais”. Praticamente todos os países têm alíquotas mais altas que incidem sobre o cidadão de maior renda. (Estados Unidos, Chile e África do Sul, entre 35% e 40%.)

A quarta iniciativa seria usar o dinheiro de impostos de maneira mais inteligente - e mais honesta, propõe a Superinteressante. A começar pelo dinheiro que o governo gasta consigo mesmo. “Se o Congresso reduzisse seus gastos para o mesmo nível do México, seria possível economizar R$ 7,3 bilhões por ano – muito mais do que está sendo gasto com todos os estádios da Copa do Mundo”.

Isso sem falar na corrupção. Um levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo estima que, a cada ano, o Brasil perca pelo menos R$ 41,5 bilhões por causa dela. (...) “Somos “apenas” o 69° no ranking das 180 nações mais corruptas do mundo”. (...) Estudo do Banco Mundial aponta o Brasil como o vice-campeão em sonegação (US$ 280 bilhões, quase o dobro de tudo o que entra via imposto de renda, por exemplo.) Com o dinheiro da sonegação, seria possível quintuplicar os gastos federais em saúde e educação.

DIFICULDADES

Superinteressante conclui que é muito difícil, ou impossível, acabar com a sonegação. “Também é muito difícil fazer o país crescer 4,7% ao ano por 17 anos. É muito difícil matar a corrupção. É muito difícil aumentar os impostos dos ricos – ou convencer os congressistas a reduzir seus próprios salários. Tudo isso é muito difícil. Mas fazer uma combinação dessas coisas, aplicando um pouco de cada remédio, talvez não seja tão difícil assim”.

A reportagem da Superinteressante, edição 321, de agosto, ocupa seis páginas.

José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.

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domingo, 28 de julho de 2013

De volta à realidade?

Enquanto o papa Francisco, numa visita histórica ao Brasil, reza, evangeliza, abraça, beija e ataca a corrupção, seguem as revelações de danos milionários do pagamento de propinas no Brasil, os Estados Unidos aparece em novo caso de espionagem, e o governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, sofre forte desgaste com manifestações de protesto.

Francisco, obviamente, dominou o noticiário da semana passada em todos os meios de comunicação do país. Continuará repercutindo por mais alguns dias. Ganhou de Veja (31 de julho, data de capa) o que a revista chama de edição comemorativa. “Papa Francisco no Brasil – “Quero que a Igreja vá para as ruas”, destaca.

ESPIONAGEM

Época (dia 31, data de capa) traz, com exclusividade, “A espionagem digital dos Estados Unidos” – o governo americano espionou oito países, entre eles o Brasil, para aprovar sanções contra o Irã nas Nações Unidas.

O governo do presidente Obama dera sinal verde para Brasil e Turquia negociarem com o Irã (sobre enriquecimento de urânio, vetado por acordo internacional). Em seguida, passou a demonstrar ceticismo com a negociação. “Espionou as delegações de outros países, trabalhou pelas sanções e vendeu. O Brasil ficou do lado perdedor”.

A operação de espionagem foi um sucesso. Deu aos Estados Unidos “uma vantagem nas negociações”, segundo a então embaixadora do país na ONU, Susan Rice. “Me ajudou a saber se outros integrantes permanentes (do Conselho de Segurança da ONU) estavam dizendo a verdade”. O Itamaraty não quis se pronunciar a respeito, registra Época.

SUPERFATURAMENTO

Também como exclusivo aparece o conteúdo de IstoÉ (dia 31, data de capa). A reportagem é sobre o chamado “Escândalo no Metrô” paulista – “A fabulosa história do achaque de 30%”. Segundo a revista, ao analisar documentos da Siemens, empresa integrante do cartel que drenou recursos do Metrô e trens de São Paulo, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e o Ministério Público concluíram que os cofres paulistas foram lesados em pelo menos R$ 425 milhões.

“Empresas do cartel (denunciadas pela própria Siemens) se associaram para vencer a licitação da fase 1 da Linha 5 Lilás do metrô paulista. Para obterem o contrato, orçado em R$ 615,9 milhões, elas teriam dado 7,5% de propina. Três contratos investigados até agora pelo Cadê o sobrepreço. Dois na Linha 2 Verde e um na 5 Lilás – um superfaturamento de R$ 252 milhões. Acordos entre o cartel e a estatal CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) indicam prática de preços 30% superiores aos normalmente praticados em quatro projetos (superfaturamento de R$ 173,1 milhões)”.

Na coluna Radar, de Veja, Lauro Jardim escreve a nota “Da Siemens para Itajubá”. “Adilson Primo, que comandou a Siemens durante anos e foi demitido da presidência por suspeita de fraude, trabalha hoje na Secretaria de Administração e Gestão da pacata Prefeitura de Itajubá, Minas Gerais. Se quiser, pode ajudar – e muito – na delação premiada que a empresa propôs ao Ministério Público de São Paulo sobre um esquema de cartel em licitações públicas feitas por governos tucanos no estado”.

“FOMOS OMISSOS”

Na mesma edição sobre o cartel, IstoÉ entrevista o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, apresentado como um dos mais fiéis auxiliares do ex-presidente Lula. “Fomos omissos” é o título do texto de Paulo Moreira Leite. “Ministro diz que governo tem muitas conquistas, mas se acomodou e não deu respostas para questões urbanas graves, aumentando o mal-estar da população”.

BRASILEIRO LIMITADO?

A escritora Lya Luft, colunista da Veja, não acha graça quando dizem que alguma falha, bizarrice, relaxamento ou incompetência é o jeito brasileiro. “Não concordo quando autoridades dizem que atrasos em ocasiões oficiais fazem parte da cultura brasileira... Não acho que errar o trajeto ou combinar mal ou nem combinar nada sobre o trajeto de um papa, sabido séculos antes, nas tantas vezes convulsionadas ruas do Rio atual, seja apenas jeito brasileiro. E, se for, a gente tem de corrigir”.

Seu artigo, “O jeito brasileiro”, segue:

“No Brasil é assim...”. “Será? Será bom? A gente deve achar graça e se orgulhar? Houve um momento em que uma autoridade afirmou que caixa dois no Brasil é normal. Será? E então como falar de ética, honradez, transparência, palavras que se vão gastando de tão mal usadas?”, questiona Lya Luft, que me fez lembrar o fato seguinte.
Na semana passada, em rádio de São Paulo, pela manhã, correspondente do Rio de Janeiro, de quem infelizmente não guardei o nome, disse que o brasileiro não tem raciocínio para a diversidade. Vive à base de fazer “uma coisa de cada vez”, falou. Não é capaz, de pensar um evento no Maracanã e suas variáveis, como vias de circulação, utilização de banheiros etc. Foi por aí. Ou seja, segundo ela, o brasileiro ainda é um atrasado, um limitado, para eventos de grande porte.

(Observo que, no geral, o que coube à Igreja organizar – com a participação de milhares de brasileiros, milhares de leigos de múltiplas atividades – foi impecável.)

O VILÃO DA HORA

Para a CartaCapital (dia 31, data de capa), no Rio de Janeiro, Sérgio Cabral é o vilão da hora. “O governador pior avaliado do país perde o controle da situação”, escreve em manchete. Ele “ignora o recado das ruas, continua a reprimir os manifestantes e é o administrador mais reprovado do Brasil”.

Na mesma edição, Marcos Coimbra, colunista da revista, sociólogo e presidente do instituto Vox Populi, analisa as pesquisas pós-manifestações.

“Tudo considerado, Dilma (Rousseff, presidente) mantém-se favorita (para as eleições presidenciais do ano que vem). “Se é verdade, que Dilma desceu, é também verdade que nenhum de seus adversários efetivos subiu. Apenas Marina Silva teve desempenho positivo. (...) Muita gente admira Marina, mas poucos ficam confortáveis a imaginá-la no cargo”, opina Coimbra, em CartaCapital.

O QUE TEMOS DE BOM

“Francisco, sendo argentino, sabe onde se meteu, que continente é este, que país é este, e deve amar o que temos de bom, de belo, de honrado, de afetivo, de alegre, de bravo, de resistente e firme”. Lia Luft, na Veja.

RECOMENDACÕES

Segundo o jornal Estado de Minas, dia 28, em “Os dez mandamentos de Francisco”, o papa, que levou mais de 3 milhões de fiéis à orla de Copacabana, na véspera, depois de uma série de compromissos no Rio, deixa 10 recomendações aos brasileiros. “A maioria do conteúdo é um dedo na ferida aberta entre a sociedade e os políticos desde os protestos de junho e vai ao encontro do que o povo pede nas ruas. Prega, entre outras coisas, o combate à fome e à miséria, o fim da corrupção, a prática da humildade, o amor a Deus, o cultivo da solidariedade e de valores”.

BURRICE

“Esperar do papa Francisco uma ruptura com o dogma e a moral do cristianismo em sua versão católica é mais que um despropósito: é uma burrice. Ele está comprometido pela fé e pelo seu estado sacerdotal com um corpo de doutrinas que atravessou mais de 2.000 anos e pelo qual foi eleito não democraticamente, mas legitimamente pelos representantes da comunidade católica universal”.  Carlos Heitor Cony, escritor, conhecedor de Igreja, na Folha de S. Paulo (27 de julho).

“PRESTO ATENÇÃO”

“Não comento pesquisa. Nem quando sobe nem quando desce [puxa a pálpebra inferior com o dedo]. Eu presto atenção. E sei perfeitamente que tudo o que sobe desce, e tudo o que desce sobe”. Dilma Rousseff, em entrevista a Monica Bergamo, na Folha de S. Paulo (28), para quem falou ainda que “Lula não vai voltar porque nunca saiu (...). Eu e Lula somos indissociáveis”.

“ESSE PAÍS É O BRASIL”

“Considere um país que está entre os dez mais violentos do mundo: um dos países onde mais se morre por causa de tiro”, escreve Vinicius Torres Freire, em “Aquarela sangrenta do Brasil”, na Folha de S. Paulo deste domingo, 28 de julho. 

“Nesse mesmo país, a população adulta mal passou da escola primária, em média. Nas estatísticas mundiais de anos de instrução, esse país está para lá de centésimo lugar numa lista de 185 nações”. 

“Esse país fantástico também é um dos dez mais desiguais em termos econômicos (de renda individual, mas não apenas). Esse país é o Brasil”. 

(...) “Por ninharias, o brasileiro rasga a fantasia fina de civilização e atira: é tosco e tem uma arma à mão para cometer barbaridades (quando não tem arma de fogo, tem um automóvel: somos um dos povos que mais se mata também no trânsito). 

“Desigualdade de renda, social, de poder, violências, falta de educação: há algo de anormalmente errado com o Brasil.
O "gigante" precisa acordar para isso”.

DIA MUNDIAL DA PRIVADA

“A diversão e o riso que possam seguir a designação de 19 de novembro como Dia Mundial da Privada já terão sido úteis se chamarem a atenção para o fato de que 2,5 bilhões de pessoas não têm saneamento básico”.

Trecho de comunicado da ONU (Organização das Nações Unidas), que oficializou a data para alertar para a realidade de 1,1 bilhão de pessoas que não tem sequer acesso a banheiros. (O planeta alcançou 7,03 bilhões de habitantes em abril de 2012, segundo o Fundo de População das Nações Unidas.) Fonte: Veja.

OPÇÃO

“Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo”. Papa Francisco, no Correio Braziliense, dia 28.

PARA TERMINAR - Papa despede-se do Brasil. O Brasil, nesta semana, sem choro, nem vela, cai na sua pobre realidade, de suas mazelas, de muita fumaça, propaganda e pouca ação, da faminta base aliada etc. Há previsão de novos protestos, com suas mensagens. O Brasil cai na realidade?

José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.


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quarta-feira, 24 de julho de 2013

Além do papa Francisco

Retomo meu blog na semana em que o papa Francisco visita o Brasil. Francisco é capa de três das quatro mais destacadas revistas de informação do país (data de capa, 24/7/2013). Na Veja, com a manchete “O papa dos pobres”; na CartaCapital, “O papa renovador”, e na Época, “10 lições de vida do papa”.

IstoÉ optou por reportar sobre “O propinoduto do tucanato paulista”, revelando “documentos exclusivos” sobre esquema de corrupção montado há quase vinte anos para desviar dinheiro de obras do metrô e dos trens metropolitanos de São Paulo, em conexões em paraísos fiscais, pagamentos para empresas de fachada e saques na boca do caixa. Parte do cartel, a Siemens denunciou o esquema, que envolve multinacionais e já arrecadou pelo menos R$ 50 milhões, segundo a revista.
IstoÉ destaca ainda uma matéria de saúde – “A mais importante vitória contra a Síndrome de Down” – e outra sobre tortura, “Por que o Brasil mantém em suas delegacias as mesmas práticas que massacraram presos políticos”.
CONCHAVOS
Além do papa, Veja traz o texto “O rato roeu o ronco da rua”. Segundo a revista, “dinheiro público para financiar campanhas políticas, proteção aos mensaleiros, ajuda aos fichas-sujas, truques para escapar dos julgamentos do Supremo Tribunal Federal… As pragas tradicionais voltaram a roer a pauta do Congresso Nacional. (…)
Na semana passada, escreve a revista, a agenda positiva do Parlamento sofreu um ataque especulativo de pragas que surgiram de muitos lados. No lugar da pauta sintonizada com a sociedade, que previa ações contra políticos condenados e maior transparência nos procedimentos do Legislativo, moveram-se propostas destinadas a fragilizar a legislação eleitoral e favorecer os conchavos com o dinheiro público”.
CLASSE MÉDIA?
Classificar vastos contingentes da população como de “classe média”, em vez de “pobres”, faz qualquer governo parecer mais eficaz. No texto “E você, é da classe média?”, a revista Época escreve que a consultoria Ernest & Young (EY) chegou a uma definição própria, a partir de estudos iniciados em 2010 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“Num relatório recente, a EY denomina como pertencentes à “classe média global” os indivíduos com rendimento diário entre US$ 10 e US$ 100, uma renda mensal equivalente, agora, à faixa entre R$ 660 e R$ 6.600. O governo brasileiro considera de classe média os cidadãos com renda entre R$ 291 e R$ 1.019 (definição dada em 2012 pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, ligada à Presidência da República). Pelo critério do governo, a classe média é maioria no Brasil: 53% dos habitantes. Pelo critério da EY, encolhe para 41%, e os pobres são a maior parte da população”.
Época considera que o critério da EY é tão atacável quanto qualquer outro. “Tem a seu favor o objetivo de aplicação prática: presente em 140 países, a consultoria tem de orientar seus clientes, interessados unicamente em vender”.
Para o Banco Mundial, pertence à classe média quem tem rendimento diário entre US$ 2 e US$ 13 (o equivalente a uma renda mensal entre R$ 132 e R$ 858).
CONSELHEIROS
CartaCapital, em editorial de Mino Carta, afirma que o Brasil precisa de melhores escolhas e a presidenta Dilma, de conselheiros mais competentes.
“Saio de trem-bala. É um objetivo da presidenta Dilma. Ou seria o caso de dizer xodó? Ela o quer a todo custo, para ser preciso 50 bilhões de reais, à velocidade de 200 milhões por quilômetro construído. Agora vejamos. São Paulo, uma das cidades mais caóticas do mundo, dispõe de 70 quilômetros de metrô. Tivesse 300, a vida do paulistano melhoraria extraordinariamente”.
O jornalista explica que as recentes manifestações de rua alegavam entre seus motivos os gastos exorbitantes para a realização da Copa das Confederações, enquanto, por exemplo, mais da metade da população não é alcançada pelo saneamento básico. “Se os propósitos das passeatas frequentemente pareciam obscuros, este seria nítido e justificado. Como a queixa contra o aumento das passagens de ônibus. E nem teríamos como decente, aceitável em um país democrático e civilizado, um transporte público como o nosso mesmo fosse de graça”. Segundo o editorial, até anteontem, ou pouco mais, o Brasil era apontado mundo afora como um país de progresso acelerado”.
“O mundo costuma enganar-se em relação ao Brasil, na mesma medida em que o Brasil se engana em relação ao mundo. A globalização tem suas falhas. O mundo não sabe, por exemplo, que há 20 anos empresas brasileiras produziam eletrodomésticos de excelente qualidade e hoje não mais. Erros de política econômica desencadearam efeitos fatais para a nossa indústria, e não bastam as perspectivas do pré-sal para apresentar o País como terra prometida”.
A revista se posiciona. “Um ano e um mês e meio antes das eleições, CartaCapital abala-se a afirmar que a continuidade de Dilma é, na nossa opinião, da conveniência do Brasil. Permite-se esperar, contudo, que a presidenta seja menos irrecorrível nas suas decisões, ou, por outra, aberta ao benefício da dúvida e, portanto, ao reestudo em busca da solução certa. E que, rapidamente, escolha conselheiros mais competentes”.
VOTO DISTRITAL
“O voto distrital com “recall” é a reforma que inclui todas as outras reformas. São “eles” que passam a ter medo de você, e não o contrário. (…) A expressão tem exatamente o mesmo sentido e propósito em política e em administração pública que tem no comércio de automóveis: “Troque o seu político com defeito (de caráter, de comportamento, de desempenho) por outro novo antes que ele provoque um desastre”.
Trecho de artigo do jornalista Fernão Lara Mesquita, publicado na Folha de S. Paulo, dia 23/7/2013. Mesquita é um dos acionistas do jornal O Estado de S. Paulo. Link do artigo na íntegra:
REVOLUÇÃO
“Questões como esquerda e direita estão superadas. Quem deflagrou tudo isso (manifestações de protesto) foi a classe média. Quem faz a revolução é a classe média”.
Ferreira Gullar, poeta, jornalista, um dos organizadores da Passeata dos Cem Mil, em 1968, em entrevista para a IstoÉ.
AMERICANOS
“Agora vem o governo fazendo cara de que nunca soube. Mentira”.
Fernando Francischini, deputado federal (PEN-PR) e ex-delegado da Polícia Federal, dizendo, em Veja, que as autoridades brasileiras sempre souberam das ações (de órgãos de inteligência) dos americanos no Brasil e que muitas vezes se beneficiaram delas para a solução de crimes cometidos aqui.
José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.
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