quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A voz do dinheiro e a banda curta


A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), segundo o deputado federal Walter Feldman (PSDB-SP), defende as empresas, não os consumidores; permite-se que as empresas entreguem 10% da internet prometida e que vendam o patrimônio público.
“O contrato das operadoras com os clientes obriga a entrega de uma banda mínima de apenas 10% da velocidade vendida. Se o consumidor comprou dez megabytes, vai receber apenas um megabyte”, escreve, em artigo na Folha de S. Paulo (22 de fevereiro de 2012).
Na opinião dele, o descaso da Anatel e do governo com os consumidores não para por aí. “Um dos termos no contrato de concessão era que a concessionária deveria devolver os bens da União depois do final do contrato ou então repassá-los para um novo concessionário. Em 2008, ao ratificar o contrato, o governo poderia pegar alguns bens de volta para beneficiar a população. A Anatel, porém, permitiu que as operadoras vendessem o patrimônio público. Só a venda de um terreno (em frente ao Palmeiras, em São Paulo) rendeu um valor na casa do bilhão. O local poderia servir para construir um imenso parque, escolas e creches”.
No mesmo dia e no mesmo jornal, o frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o frei Betto, assessor de movimentos sociais, escreve o artigo “Dilma e a crise global”, sobre encontro que teve com a presidente Dilma Rousseff, acompanhado de Leonardo Boff e de sua mulher, Márcia Miranda. Frei Betto reporta que “o Brasil está vacinado contra o neoliberalismo, ela nos disse; Dilma teme, porém, que a crise mundial torne agências de risco mais importantes do que o povo”.
AGÊNCIAS DE RISCO
Em outro trecho, Betto conta que a presidente alertou que o pós-neoliberalismo não pode coincidir com a pós-democracia. “Manifestou, assim, o temor de que medidas tomadas para superar a crise financeira mundial torne as agências de risco econômico mais importantes do que os povos que elegeram seus governantes”. (Acrescento: Economistas ligados a agências de risco integram governos em crises que não souberam prever.)
As agências de risco – empresas privadas que fazem avaliações e dão notas sobre a economia de países – são destaques no cenário da crise econômica global, que afeta, por exemplo, a Grécia, que perde sua soberania econômica, diante da União Europeia, de que faz parte. “Mesmo com todas as obrigações e com a perda de soberania econômica, o premiê grego, Lucas Papademos, classificou de “histórico” o acordo, que permitirá ao país saldar um total de 14,5 bilhões de euros em dívida com vencimento em 20 de março, evitando o calote”, destaca o jornal O Estado de S. Paulo na manchete de capa (22).
O analista Wolfgang Münchau, do Financial Times, reproduzido na Folha (21), afirma que “Alemanha pressiona Grécia a abrir mão da sua democracia”, ao referir-se ao ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, que propôs que a Grécia adiasse suas eleições como condição para receber nova ajuda.”A zona do euro quer impor sua escolha de governo à Grécia, no que a transformaria em sua primeira colônia. (…) Uma coisa é os credores interferirem no gerenciamento de políticas de um país beneficiário. Outra é dizer a ele para suspender eleições. Na própria Alemanha, isso seria inconstitucional. (…) A estratégia alemã parece ser tornar a vida na Grécia tão insuportável que os próprios gregos vão querer sair da zona do euro. A chanceler alemã, Angela Merkel, certamente não quer ser vista com uma arma na mão.É uma estratégia de suicídio assistido, uma tática extremamente perigosa”.
ANOTE
Brasil Econômico (22) mostra quanto os bancos gastam para ganhar R$ 100; “Instituição mais eficiente é o Safra, que gasta R$ 40,20 para ter R$100 em receita. Banco Votorantim gasta mais que o dobro – a R$ 83”.
“ZÉ NINGUÉM”
Segue, agora, uma letra de música de anos atrás, que se perpetua no Brasil. É “Zé Ninguém”, da banda Biquini Cavadão (Bruno Gouveia — vocal, Carlos Coelho — guitarra, Miguel Flores — teclado, Álvaro “Birita” Lopes — bateria, na primeira formação).
Quem foi que disse que amar é sofrer?
Quem foi que disse que Deus é brasileiro,
Que existem ordem e progresso,
Enquanto a zona corre solta no congresso?
Quem foi que disse que a justiça tarda mas não falha?
Que se eu não for um bom menino, Deus vai castigar!
Os dias passam lentos
Aos meses seguem os aumentos
Cada dia eu levo um tiro
Que sai pela culatra
Eu não sou ministro, eu não sou magnata
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo, as leis são diferentes
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo, as leis são diferentes
Quem foi que disse que os homens nascem iguais?
Quem foi que disse que dinheiro não traz felicidade?
Se tudo aqui acaba em samba,
no país da corda bamba, querem me derrubar!!
Quem foi que disse que os homens não podem chorar?
Quem foi que disse que a vida começa aos quarenta?
A minha acabou faz tempo, agora entendo por que ….
Cada dia eu levo um tiro
Que sai pela culatra
Eu não sou ministro, eu não sou magnata
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo, as leis são diferentes (4X)
Os dias passam lentos
Os dias passam lentos
Cada dia eu levo um tiro
Cada dia eu levo um tiro
Eu não sou ministro, eu não sou magnata
Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo, as leis são diferentes…
José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, http://www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.
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www.outraspaginas.com.br

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Fora e dentro da escola: “3 + 3 = 7”


Propaganda e tamborins à parte, “apenas 35 cidades brasileiras – 0,6% do País – têm metade ou mais de seus alunos com aprendizado em matemática adequado à série que cursam”, escreve o jornal O Estado de S. Paulo (dia 8 de fevereiro). “No caso da língua portuguesa, esse índice é de 1,2%. Ou seja: apenas 67 municípios apresentam a metade ou mais de seus estudantes com conteúdo satisfatório para o ano da escola em que estão. Isso significa que a grande maioria ainda não aprendeu a identificar o conflito e os elementos que constroem a narrativa de um texto, por exemplo”.

Os dados se referem ao 9º ano do ensino fundamental das redes públicas, são de 2009 e constam do relatório anual do movimento Todos Pela Educação, apresentado dia 7. "É uma crise que estamos vivendo no País, e toda a ineficiência desse sistema acaba desaguando no ensino médio: apenas 11% dos que concluem têm aprendizado suficiente em matemática", afirma Priscila Cruz, diretora executiva do movimento.

A meta do Todos Pela Educação é de que, até 2022, 70% ou mais alunos tenham aprendido o conteúdo ensinado em sua série, escreve o Estadão.

Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, afirma que o problema da aprendizagem depende de um conjunto de fatores, que passa até mesmo pela infraestrutura da escola. "A qualidade do equipamento escolar hoje é muito baixa. Não é só um problema curricular ou de motivação do docente: a escola deve promover a cidadania por meio de sua infraestrutura."

FORA DA ESCOLA

O Brasil tinha 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola em 2010, destaca O Globo (dia 8). “Esses 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola excedem a população do Uruguai. É uma população mais difícil de incluir porque são os estão no campo, em favelas, em bairros muito pobres”, disse Priscila Cruz. O estado que tem o maior percentual de crianças e adolescentes fora da escola é o Acre (15%). Já Rio e São Paulo têm, respectivamente, 6,8% e 7%.

O movimento Todos Pela Educação, que é financiado pela iniciativa privada, desde 2006 acompanha as condições de acesso e alfabetização. “Para isso, estabeleceu cinco metas, que têm prazo final de cumprimento em 2022. Além da meta de incluir todas as crianças de 7 a 14 anos na escola, quer que elas estejam alfabetizadas aos 8 anos, que todo aluno tenha aprendizado adequado à série e que todo jovem tenha concluído o ensino médio até os 19 anos. Quer ainda que o investimento seja ampliado”.


O Estadao.com, dia 19 de janeiro, reporta que o Relatório de Monitoramento de Educação para Todos de 2010, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), mostra que a qualidade da educação no Brasil é baixa, principalmente no ensino básico.

“O relatório da Unesco aponta que, apesar da melhora apresentada entre 1999 e 2007, o índice de repetência no ensino fundamental brasileiro (18,7%) é o mais elevado na América Latina e fica expressivamente acima da média mundial (2,9%)”.

No ranking geral do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil é o 53º colocado entre os 65 países participantes, segundo o Brasil Escola.

“O analfabetismo funcional de pessoas entre 15 e 64 anos foi registrado em 28% no ano de 2009 (IBOPE); 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não conseguem ler (Todos pela Educação); 20% dos jovens que concluem o ensino fundamental, e que moram nas grandes cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita (Todos pela Educação). Professores recebem menos que o piso salarial”, detalha trecho de texto da pedagoga Eliane da Costa Bruini, do Centro Universitário Salesiano de São Paulo e colaboradora do Brasil Escola (17 de setembro de 2011).

PROFESSORES

“Já sabemos que não basta, como se pensou nos anos 1950 e 1960, dotar professores de livros e novos materiais pedagógicos. O fato é que a qualidade da educação está fortemente aliada à qualidade da formação dos professores. Outro fato é que o que o professor pensa sobre o ensino determina o que o professor faz quando ensina. O desenvolvimento dos professores é uma precondição para o desenvolvimento da escola e, em geral, a experiência demonstra que os docentes são maus executores das ideias dos outros. Nenhuma reforma, inovação ou transformação – como queira chamar – perdura sem o docente”.

“Mudanças profundas só acontecerão quando a formação dos professores deixar de ser um processo de atualização, feita de cima para baixo, e se converter em um verdadeiro processo de aprendizagem, como um ganho individual e coletivo, e não como uma agressão”, reflete Eliane da Costa Bruini.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, comentou para a imprensa o relatório do Todos pela Educação. Mercadante disse que o problema de crianças e jovens fora da escola se concentra na pré-escola e no ensino médio, e que o governo trabalha nessas duas frentes: por um lado, quer acelerar o ProInfância. De outro, aposta na oferta de ensino técnico-profissionalizante para quem cursa o ensino médio.


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José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A doença do atraso e da pobreza


O Brasil da chamada “nova classe média”, dos “tablets” e outras modernidades tecnológicas, “embora tenha eliminado, há seis anos, o barbeiro Triatoma infestans, não conseguiu proteger os brasileiros mais pobres das outras espécies do inseto”. “São 3 milhões os portadores do mal e 606 municípios (11% do país) com alto risco de infestação”, escreve o Correio Braziliense (5 de fevereiro), em série de reportagem assinada por Vinícius Sassine. “Outros 1.490 municípios (26,9%) têm um risco médio”.

“OS GRINGOS”
De Goiás, Sassine conta: O Estado, para uma legião de doentes de Chagas nas comunidades rurais de Posse, cidade de 31,4 mil habitantes distante 320km de Brasília, se resume a dois “gringos”.
“Interessados no mapeamento genético das famílias e em respostas para a evolução da doença,os norte-americanos escolheram uma região antes completamente infestada por barbeiros e hoje habitada por herdeiros de um mal esquecido. A dupla do Texas aparece uma vez por semestre, há 10 anos. Não há, num local tão isolado no Centro-Oeste brasileiro, quem não conheça os “gringos”, como são chamados pelos moradores”.
É triste ler, a seguir, que o Estado brasileiro se esqueceu desses doentes crônicos (são pelo menos 3 milhões de doentes). “Inexistem diagnósticos, exames, acompanhamento, tratamento médico. Saber, pelos “gringos”, da manifestação da doença é um irônico detalhe”.
“DOENÇA DA POBREZA”
Na segunda reportagem da série (6 de fevereiro), o Correio Brazilienseconsidera que a indústria farmacêutica despreza a doença porque não dá lucro.
“A indústria farmacêutica desistiu de mais uma doença da pobreza, e isso já faz nove anos. Desde 2003, a Roche Farmacêutica não fabrica o rochagan, nome ainda usado por quem tem Chagas para denominar o benznidazol. A licença foi transferida para um laboratório público, o Lafepe, que só produziu os primeiros lotes do medicamento cinco anos depois. Suspensa a fabricação no ano passado, o problema ganhou contornos internacionais. O Lafepe é o único no Brasil e no mundo a produzir o benznidazol. Praticamente todos os pacientes do mal de Chagas, a maioria deles na América Latina, dependem do medicamento produzido em Pernambuco”.
“O acompanhamento, o custeio da produção e a regulação dos estoques de benznidazol são responsabilidades do Ministério da Saúde. Apesar de o presidente do Lafepe ter admitido ao Correio que a produção do benznidazol foi paralisada por sete meses, o Ministério da Saúde diz que “não é verdade” que o medicamento deixou de ser produzido”.
“Além do desabastecimento interno, países que pagaram pelo medicamento entraram numa fila deespera. É o que atestaram participantes da 27ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas, realizada em Uberaba (MG), em outubro do ano passado”.
HOMICÍDIOS POR 100 MILHABITANTES NAS CAPITAIS
1º lugar – Maceió, 109,9 homicídios;
2º       – João Pessoa, 80,3;
3º       – Vitória, 67,1;
4º       – Recife, 57,9;
5º       – São Luís, 56,1;
6º       – Curitiba, 55,9;
7º       – Salvador, 55,5;
8º       – Belém, 54,5;
9º       – Porto Velho, 49,7;
10º      – Macapá, 49.
Famosas, as capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo ocupam, respectivamente, a 23ª e a 27ª posições no Brasil. O Rio com 24,3 homicídios por 100 mil habitantes; São Paulo com 13.
Fonte: Mapa da Violência 2012 – Instituto Sangari.
FRASE
“Queremos em especial homenagear irmãos cujo sofrimento ao longo da história lembra muito o que nós judeus sofremos: nossos irmãos negros, protagonistas de uma história tão bela,  tão rica culturalmente, mas indelevelmente marcada por sofrimentos indescritíveis na escravidão”.
Claudio Lottenberg, médico oftalmologista e presidente do Hospital Albert Einstein de São Paulo e da Confederação Israelita do Brasil, discursando em Salvador, Bahia, na solenidade do Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto. (Veja,8 de fevereiro, data de capa.)
Fontes:
José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.
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