O Dia Nacional da Consciência
Negra, celebrado em 20 de
novembro no Brasil, com feriado municipal em diferentes cidades, a exemplo de
São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas, e tudo que o tema envolve, merecem
reflexão. Sou fiel defensor de ações afirmativas para o desenvolvimento
do cidadão mais carente, seja ele branco, preto, pardo, mulato, amarelo, índio,
mameluco - enfim, pobre. Simples assim: pobre e portadores de deficiências
devem ter cotas sociais, tratamento específico. Cota racial é discriminação. É
racismo, em minha opinião, embora respeite todos os contrários.
Vamos ao assunto, agora que volto a escrever este blog, no
Dia da Proclamação da República, 15 de novembro, depois de dois meses e meio de
ausente, cuidando de outras atividades. O texto tem informações e opiniões para
todos os gostos.
O Correio do Estado, de Campo Grande, com
informações do portal IG, divulga na
véspera (14 de novembro) que trabalhador negro tem
61% do rendimento do não negro. “Os trabalhadores negros são maioria
em setores como construção civil e serviços domésticos, que pagam menos, exigem
menor qualificação profissional e têm relações trabalhistas mais precárias. Já
em setores como serviços, indústria e comércio, os não negros predominam. O
resultado é que o rendimento médio por hora dos trabalhadores negros (R$ 6,28)
representa apenas 61% do rendimento dos não negros (R$ 10,30)”.
(Não nos esqueçamos que os trabalhadores brancos também
estão na construção civil e nos serviços domésticos, nas mesmas condições -
recebem menos, têm menor qualificação profissional e
têm relações trabalhistas mais precárias)
“DISCRIMINAÇÃO”
Há uma carga de discriminação racial, a pretexto de criar
ações afirmativas. Por exemplo: o Campo
Grande News (14 de outubro de 2012), com informações da Folha de S. Paulo, informa que o
Governo Federal vai criar cota de 30% para negros no serviço público.
"Cota seria aplicada aos cargos comissionados e concursados; hoje o
Executivo tem cerca de 574 mil funcionários civis".
Ao mesmo tempo, o Ministério da Cultura,
comandado por Marta Suplicy, propõe editais exclusivos para produtores negros. A
medida, segundo a Folha (dia 6 de
outubro), divide o meio cultural. "É um absurdo. Se eu fosse negro,
ficaria muito puto. É uma coisa de demência, ligada à culpa cristã de classe
média branca. É só um passo a mais pelo ódio racial que está sendo
potencializado desde que o PT entrou no poder", disse o cantor Lobão.
Para o autor de "Cidade de Deus", Paulo Lins, a
medida anunciada pela ministra Marta Suplicy é boa e necessária. "O negro
tem que ter privilégio e inclusão em tudo. Ele foi sacrificado durante 400 anos
de escravidão no país".
“CULTURA
BRANCO-CÊNTRICA”
Já o cineasta Zelito Viana, que produziu "Terra em
Transe" (1967) e "Cabra Marcado Para Morrer" (1985), considera a
medida "racista". "Agora haverá editais também para anão e para
mulher?"
Segundo o professor de ciência política da Uerj
(Universidade Estadual do Rio de Janeiro) João Feres Júnior, a medida é
importante porque a cultura brasileira é "extremamente
branco-cêntrica".
O sociólogo Demétrio Magnoli considera a medida
discriminatória porque viola a igualdade constitucional entre os cidadãos, mas
hoje "infelizmente" é legal graças à decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF) a favor das cotas raciais no vestibular da Universidade de
Brasília (UnB).
A apresentadora Glória Maria, da Rede Globo, opina:
"Quando li a notícia, fiquei em choque: estou no Brasil ou na África do
Sul de 30 anos atrás? Isso é discriminação". Clemente, da banda punk
Inocentes, acha a iniciativa um absurdo. "O governo deveria se preocupar
em incluir classes pobres, gente que nem sabe que existem editais".
A ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial, Luiza de Bairros, responsabilizou as gerências de estatais
pela baixa aprovação de patrocínio cultural a projetos de arte negra. “De forma
fraterna e sem querer criar polêmica, há uma espécie de racismo institucional”,
afirmou a ministra.
“AUTOCENSURA”
Para o colunista Vinícius Mota, da mesma Folha, no artigo "A era das leis
raciais" (dia 15 de outubro), trata-se de uma onda avassaladora, a induzir
silêncio e autocensura nos que se opõem a sua implantação. "A sociedade
dividida à força entre brancos e negros consumaria o retrocesso histórico da
recidiva das leis raciais no Brasil. Chame-as de "racistas" ou
"racialistas", na língua da moda, elas exumam e validam termos de
velhos adversários da modernidade quando instituem privilégios baseados em
atributos corporais. O sangue, a cor, a linhagem. Desta vez é para fazer o bem
e reparar o mal, argumenta-se. Tenho dúvidas - e saudades do tempo em que ser
moderno era não discriminar nem aceitar discriminação".
Na opinião de Elio Gaspari, em O Globo, dia 20 de outubro, as políticas de ação afirmativa são um
sucesso para ninguém botar defeito. "A notícia pareceu uma simples
estatística: entre 1997 e 2011, quintuplicou a percentagem de negros e pardos
que cursam ou concluíram o curso superior, indo de 4% para 19,8%. Em números
brutos, foram 12,8 milhões de jovens de 18 a 24 anos. Isso aconteceu pela
conjunção de duas iniciativas: restabelecimento do valor da moeda, ocorrido durante
o governo de Fernando Henrique Cardoso, e as políticas de ação afirmativa
desencadeadas por Lula".
Gaspari compara o Brasil e os Estados Unidos: Pindorama
ainda tem muito chão pela frente, pois seus negros e pardos formam 50,6% da sua
população e nos Estados Unidos são 13%".
“SILÊNCIO
ASSOMBROSO”
No artigo “Raça e educação nos Estados Unidos”, dia 24 de
outubro, na Folha, Julia Sweig,
diretora do Programa América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign
Relations, faz referência a artigo do New York Times, que tratou dos efeitos
profundamente corrosivos sobre o coração, a alma e a identidade de crianças
afroamericanas que estudam em escolas particulares de elite de Manhattan, onde,
apesar de estarem mais representadas, há pouco diálogo comunitário sobre raça,
classe e privilégios. Um antigo aluno disse ao jornal que "o nível do
silêncio é assombroso". "As pessoas são educadas demais para falar
disso", comentou.
“A Suprema Corte dos EUA não é tão educada assim e vai em
breve julgar uma ação que contesta a ação afirmativa em universidades, uma
prática que abriu portas para conquistas de milhões de americanos”, na opinião
de Julia Sweig.
MORGAN
FREEMAN
Em poucos segundos, há uma bela reflexão sobre racismo. É
do grande ator Morgan Freeman, em entrevista a Mike Wallace, no programa 60
minutos da CBS News, nos Estados Unidos. Veja a entrevista, colocada no
Youtube, clicando no link abaixo.
O chamado “Movimento Negro do Brasil” reivindica que o
feriado de 20 de novembro seja nacional.
José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista,
editor e consultor em comunicação.
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