terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A arte de furtar, a internet e o lixo


A revista Época (30 de janeiro, data de capa), baseada na análise de casos recentes, lista as modalidades de corrupção mais comuns no Brasil – e propõe ideias para diminuir a roubalheira.
Em “Anatomia da corrupção”,  Marcelo Rocha pretende passar a mensagem (para os governantes) de que “a tolerância do eleitor com os “malfeitos” é muito menor em sociedades democráticas e com imprensa livre” e (para o eleitor) de que “saber como se rouba ajuda na fiscalização dos políticos”.
A reportagem começa por lembrar que o livro “Arte de furtar” foi concluído em 1656. “Atribuído ao Padre Antônio Vieira (mais tarde essa autoria seria contestada), o documento era endereçado ao rei de Portugal, Dom João IV, um dos primeiros representantes da Casa de Bragança. Com o intuito de alertá-lo sobre os malfeitos de seus súditos no além-mar, a obra lista as diversas maneiras encontradas pelos representantes da coroa portuguesa para desviar dinheiro público na colônia (o Brasil)”
Época escreve que não existe sociedade cuja população seja mais ou menos propensa ao roubo. “Uma pesquisa científica feita anos atrás mostrou que, diante de uma situação de dilema ético, cerca de 10% das pessoas agem de acordo com rígidos princípios morais, outros 10% agem de forma a tirar o máximo de vantagem, mas a maioria absoluta, cerca de 80%, se pauta principalmente pela possibilidade de ser apanhada”.
“No ano passado, a Controladoria-Geral da União (CGU) apurou desvios que chegam a R$ 1,8 bilhão. (…) Desde 2002, quando a CGU passou a consolidar os números, os desvios somam R$ 7,7 bilhões. Esses valores representam o montante que deve ser cobrado dos responsáveis por essas irregularidades, mas, sabidamente, está longe de ser o montante que foi roubado no Brasil”.
A revista considera que, ao ler sobre corrupção praticamente todos os dias na imprensa, é comum que o cidadão muitas vezes se sinta perdido, confuso, desorientado. “O guia  de Época visa mostrar que, de maneira geral, a corrupção não é algo tão complexo e rocambolesco como muitas vezes pode parecer. “Como uma carta endereçada ao cidadão brasileiro, da mesma forma que Arte de furtar se dirigia ao rei Dom João IV, o objetivo singelo desse levantamento é mostrar como se rouba no Brasil atual. Sempre tendo em vista que, entre estes cidadãos, está a presidente Dilma Rousseff, tão preocupada com os “malfeitos”.


SETE ESQUEMAS
(Atualização de texto) Resumo dos sete esquemas que os corruptos usam para meter a mão em nosso dinheiro estão nas modalidades (1) dos que furtam por meio de obras (fraudes em licitações), (2) por meio de eventos (superfaturamento), (3) por meio de serviços de qualificação profissional (invenção de cursos, número de alunos), (4) por emendas parlamentares (tráfico de influência na contratação de serviços), (5) por ONGs-Organizações Não Governamentais (falsificação de notas, simulação de serviços), (6) por contratos de publicidade (preços fictícios, direcionamento de editais) e (7) por meio de consultorias (contratos sem licitação, serviços não executados).
Para diminuir a corrupção, Época propõe (1) tornar a Justiça mais ágil para punir os corruptos, (2) diminuir o número de nomeações (“cerca de 24 mil cargos na administração direta da União e nas estatais podem ser ocupados por gente que não prestou concurso”), (3) aumentar o poder e a especialização dos órgãos fiscalizadores e (4) garantir o funcionamento efetivo da lei de acesso à informação.
“SOPA INDIGESTA”
Carta Capital (1º de fevereiro, data de capa) traz a manchete “A Guerra da Internet – Trava-se um embate decisivo para a cultura no mundo”, ampla reportagem sobre a colocação de “cercas no ciberespaço”. Aborda, entre outros pontos, o draconiano Sopa (Stop Online Piracy Act, ou Ato para deter a pirataria online), projeto apresentado na Câmara dos Estados Unidos pelo deputado republicano Lamar Smith.
A proposta “proibiria provedores de dar acesso a sites infratores e buscadores como o Google de exibir seus links. Publicitários e sistemas de pagamento online seriam proibidos de fazer negócios com eles. A distribuição de mídia online (streaming) não autorizada seria um crime passível de cinco anos de prisão”.
Demi Getschko, diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, fala de um caso que se aplica à proibição de exibição de links. “É como mandar o Guia de São Paulo tirar uma rua inteira do mapa porque ali há uma casa de má reputação”, compara.
Em outro texto, mostra-se que a ameaça está momentaneamente superada, por conta da reação da internet, a exemplo do dia de protesto de sites como oGoogle e o Wikipedia (assunto que tratei anteriormente neste blog). A indústria de propriedade intelectual e de bens culturais sob copyright norte-americano mudou o discurso, buscando jogar o debate para o campo comercial (“contrabando”, “contrafação” e “práticas comerciais desleais”). “Isso permite afastar o debate da sociedade e fazer com que dispositivos como o Sopa e o Pipa (Protect IP Act, ou Ato de proteção do protocolo da internet) sejam incorporados em tratados internacionais, cujo processo de adoção é muito mais blindado de pressões políticas”, avalia, em Carta Capital, Ronaldo Lemos, do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas.
Lemos, em artigo na Folha de S. Paulo, dia 23 de janeiro, recorda a semana recente, agitada por protestos contra o Sopa. “A maioria deles, no entanto, deixou escapar o elemento mais importante: o Sopa é uma ferramenta para reforçar a hegemonia comercial do país na internet. Disfarçado de medida antipirataria, o Sopa dá aos EUA o poder de bloquear qualquer site do mundo -e, assim, impedir seu acesso ao mercado americano”.
Outro trecho: “Se o site é americano, está isento do Sopa. O estrangeiro é alvo da indústria e da lei. Esse tipo de barreira comercial é inédita”.
A revista Época, na seção de Opinião, com o título “Ingenuidade e cinismo”, considera que o espírito das leis dos Estados Unidos – Sopa e Pipa – deve ser aplaudido. “Elas tentam deixar claro, antes de mais nada, que a cópia ilegal tem de ser punida.(…) Com as leis que protegem o direito autoral empacadas no Congresso americano – depois de protestos vigorosos na internet -, quem lucra são os piratas”.
NO BRASIL, O AI-5 DIGITAL
Aqui a batalha está na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados. “Lá, em junho de 2011, o deputado Eduardo Azeredo (PSDB), ex-governador de Minas Gerais, tentou ressuscitar o malfadado Projeto de Lei 84/1999, também conhecido pela singela alcunha de AI-5 Digital. A comparação com o Ato Institucional da ditadura, implantada pelo golpe de 1964, não é aleatória. Assim como o coirmão gestado pelos generais da linha-dura de então, o projeto de Azeredo prevê a implantação de um sistema de vigilância, delação, intimidação e criminalização de diversos direitos dos internautas brasileiros, hoje em torno de 80 milhões de pessoas”.
O texto primário do projeto foi apresentado em 1999 pelo ex-deputado Luiz Piauhylino, também do PSDB (PE). Segundo Carta Capital, a Azeredo, contudo, coube adaptar o texto aos interesses dos poderosos lobbies de bancos e das multinacionais de direitos autorais, principalmente as grandes corporações do entretenimento dos Estados Unidos. “Azeredo sempre cita o combate ao crime de pedofilia na internet, como uma das razões para aprovar o PL 84/1999. Seria, realmente, uma boa iniciativa não fosse o fato de já existir ampla legislação no País sobre o tema, decorrente, inclusive, das resoluções de uma Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado”, escreve a revista.
“É uma maneira de encobrir os verdadeiros interesses do texto”, avalia o deputado Emiliano José (PT-BA). O texto de Azeredo continua uma ameaça legislativa, mas tem registrado um fracasso atrás do outro. “A primeira reação veio , justamente, da rede mundial de computadores: 120 mil pessoas assinaram uma petição online, com o pedido de interdição do AI-5 Digital”.
Carta Capital, frente à guerra da internet nos Estados Unidos, pondera: “Mas não haverá proposta politicamente aceitável enquanto um lado se agarrar a um radicalismo libertário irreal e o outro a uma defesa igualmente dogmática e intransigente de um direito absoluto à propriedade. O interesse da sociedade e do progresso dificilmente estará em qualquer dos extremos”.
OS COMPUTADORES SUMIRAM
Relatório do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) ao qual Folha de S. Paulo (30 de janeiro) teve acesso mostra que cerca de R$ 6,4 milhões em bens doados pelo órgão aos tribunais estaduais desapareceram. São 5.426 equipamentos, entre computadores, impressoras e estabilizadores.
MAIS LIXO…
Vice-presidente da ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil), coordenador do Ires (Instituto ADVB de Responsabilidade Socioambiental) e presidente do Cenma (Centro Nacional de Modernização Empresarial), Lívio Giosa escreve na Folha de S. Paulo (dia 30 de janeiro) o artigo “Menos sacolas, mais lixo nas ruas”, afirmando que o debate sobre o acordo do governo com os supermercados a respeito do banimento das sacolas plásticas tem de começar imediatamente e em nome da verdade.
“Até agora, parece que os argumentos político e econômico afloram, já que o meio ambiente está só de pano de fundo. (…) As sacolas plásticas, escreve Giosa em outro trecho) significam somente 0,2% dos aterros sanitários. Elas são muito menos poluentes em todo ciclo de produção e, principalmente, são reutilizáveis”.
Os supermercados gastam R$ 500 milhões ao ano com as sacolinhas plásticas. Ao tentar bani-las, a pergunta é: eles irão repassar esse custo ao consumidor diminuindo o valor dos produtos. Esse mesmo consumidor já adquiriu um direito, e agora resolveram tirá-lo sem consultar”.
Outros reflexos da decisão: “Só em São Paulo, mais de 100 mil trabalhadores, direta ou indiretamente, perderão seus empregos”. “Veremos muito lixo jogado nas ruas ou em caixas de papelão. Vai ocorrer uma ampliação das doenças infecciosas”.
JORNAL DO BRASIL
Este blog não é mais publicado simultaneamente com o Jornal do Brasil, www.jb.com.br. Desejo aos meus amigos e jornalistas do JB – que trabalham incansavelmente pela preservação da marca – muita força e sucesso.
PESAR
Líder empresarial, faleceu Lourenço Chohfi, ex-presidente do Conselho de Administração e da Diretoria da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. A missa de sétimo dia, na Catedral Ortodoxa de São Paulo, foi realizada dia 26. Meu pesar, minha gratidão e minha homenagem a Lourenço Chohfi – a empresa então comandada por ele, Ragueb Chohfi, foi a primeira cliente da minha Mais Comunicação, em 1986.
Texto divulgado originalmente em
José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Operações atípicas, Voz do Brasil e Wikipedia


Você sabia? “A maior pena prevista na Lei Orgânica da Magistratura, de 1979, é a aposentadoria compulsória. Um juiz mal intencionado pode fazer o que bem entender, inclusive vender sentenças e, no máximo, irá para a casa, talvez constrangido, mas com contas bancárias gordas e garantidas para sempre”, escreve em artigo a jornalista Elaine Cantanhêde, da Folha de S. Paulo, dia 17 de janeiro.
A colunista trata da queda de braço, que vem desde dezembro de 2011, entre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), reivindicando transparência, e o STF (Supremo Tribunal Federal), querendo impor restrições. “Avança assim a discussão sobre a falta de transparência do Judiciário”, acrescenta Cantanhêde.
“ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA”
“Poder que tem de estar acima de qualquer suspeita, pois analisa, julga e, eventualmente, condena tudo e todos, inclusive ministros, altos funcionários, deputados e senadores -ou seja, de certa forma, está acima do Legislativo e do Executivo. Nesse contexto, é inviável manter abertas as “operações atípicas” de mais de R$ 800 milhões assombrando juízes e servidores do Judiciário. É preciso exorcizar: separar o legal do ilegal e, nesse caso, mostrar quem, como, onde e por quê (…) A transparência não é contra, mas, sim, a favor dos juízes. Que não paguem os justos pelos pecadores”, opina a jornalista.
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, em entrevista ao Brasil Econômico, disse que o CNJ não é dos magistrados e está trazendo o Judiciário real o CNJ não é dos magistrados; é um órgão que deve ser fortalecido para melhorar a Justiça e aproximá-la dos anseios da população. Para ele, a discussão sobre o papel do CNJ – cujos poderes estão sendo questionados no STF e serão objeto de um ato público de apoio da OAB Nacional, no próximo dia 31 – está tendo o mérito de trazer o real Judiciário à tona, afastando o Poder da imagem imaculada que parte dos seus componentes tentam construir. “Esse debate jamais surgiria dentro dos gabinetes”, disse.
Wálter Fanganiello Maierovitch, jurista e professor, escreve no blog Sem Fronteiras, do portal Terra, dia 13, sobre “a grita” de Marco Aurélio (Mello, ministro do STF) e o eco pelos R$ 856 milhões movimentados por juízes. “Com apoio em verificações do órgão de inteligência financeira do governo federal que atende pela sigla Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), a corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Eliana Calmon, soube de movimentações atípicas no valor de R$ 856 milhões, no período de 2000 a 2010, realizadas por magistrados e serventuários do Judiciário”.
Maierovitch acrescenta, em outro trecho: “soube-se, por matéria assinada pelo jornalista e repórter especial Frederico Vasconcelos (da Folha), que um ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo era credor de R$ 1,5 milhão e o embolsou de uma só vez. Pior, tudo graças a um requerimento por ele feito na condição de desembargador e despachado, por ele próprio e favoravelmente, na condição de presidente do Tribunal”.
Recorda o articulista – que também escreve em Carta Capital -, “Mello, escolhido para o STF por meio de nepotismo praticado pelo então presidente Fernando Collor de Mello, proibiu, por liminar dada no apagar das luzes do ano judiciário de 2011, as fiscalizações do CNJ em todo o Judiciário.
Em outro texto sobre o tema, dia 17, Wálter Fanganiello Maierovitch considera que Marco Aurélio maculou a imagem do Judiciário e passou a ideia de que os magistrados temem correições e são contrários à transparência. “O biombo da questão da competência, alardeada pela AMB (Associação de Magistrados Brasileiros) e encampada por Marco Aurélio, pega muito mal perante a opinião pública esclarecida”.
“MULHERES E HOMENS PROBOS”
No artigo “Em nome da Justiça”, publicado pelo Brasil Econômico, dia 12, Ricardo Galuppo, publisher do jornal, comenta que é possível encontrar muitos homens e mulheres honestos entre os políticos – da mesma forma que, até prova em contrário, a grande maioria dos magistrados brasileiros é composta por mulheres e homens probos.
“Dito isso, convém parar para refletir sobre as críticas que juízes e representantes de classe dos magistrados têm lançado sobre a ministra Eliana Calmon, corregedora do Conselho Nacional de Justiça. (…) Em primeiro lugar, nada na biografia da ministra nos autoriza a identificar qualquer motivação de natureza pessoal para agir contra os interesses de uma categoria da qual ela faz parte há tantos anos”.
Galuppo acrescenta que basicamente porque ela resolveu, no cumprimento de suas funções, tomar providências contra magistrados que aparentemente exorbitaram de suas funções e cometeram delitos passíveis de transformá-los em réus. “Ao recusar o julgamento de um Conselho constituído com base na lei do país, os magistrados parecem querer se colocar acima dela – e isso não faz bem para os juízes nem para a Justiça, e muito menos para a democracia. As ações da ministra têm endereço certo e dizem respeito não à magistratura, mas a magistrados. É hora de deixar a paixão e o corporativismo de lado e pensar que o país nada ganha (pelo contrário, perde muito) com a demonização de Eliana Calmon”.
“ABSURDO”
A Justiça está obrigando as rádios Jovem Pan (AM/FM), CBN (AM/FM) e Rádio Globo (AM) a transmitir o programa “Voz do Brasil”, adotando uma legislação que impede os paulistanos de receber informações relevantes na hora do rush, como protesta o editorial da Pan, veiculado pela emissora desde o dia 16. “O ouvinte deixará de ter a informação de que necessita nesse horário crucial para a cidade de São Paulo, especialmente no que diz respeito à prestação de serviço, condições do trânsito, segurança e acontecimentos que devem ser informados à população. Quais teriam sido os critérios usados para essa proibição que atingiu somente a Jovem Pan, a CBN e a Rádio Globo?”
Segundo a Jovem Pan, não há como compreender, já que estão fora dessa decisão e não obrigadas a transmitir A Voz do Brasil as rádios Bandeirantes AM e FM, Estadão ESPN AM e FM, Rádio RecordRádio Tupi FM, Nativa FM, Band News FM, Rádio Capital, Gazeta FM, 105 FM, Mix FM, MetropolitanaFM, Antena 1 e Transamérica FM. Quais são os interesses que estão por trás dessa decisão absolutamente arbitrária? Que interesses políticos ou econômicos impedem a Jovem Pan de informar e prestar serviço das 19 às 20 horas? A Jovem Pan se nega a calar-se diante de um fato que beira ao absurdo, completamente distante da realidade de uma cidade como São Paulo e produto da ditadura Vargas, da década de 1940”.
No editorial, a emissora destaca que a população deve estar alerta. “Este é um ano de eleição. A população detém no voto a sua maneira mais correta de protestar contra medidas que não cabem mais no país que todos desejamos. Medidas assim ferem a democracia e a própria Constituição brasileira”.
INTERNET AMEAÇADA
Wikipedia, na língua inglesa, que reúne para livre consulta 3 milhões e 831 mil artigos, está fora do ar, dia 18, por 24 horas, em protesto diante de projetos de lei, nos Estados Unidos, com alegado argumento de enfrentar a pirataria na rede e a proteção de propriedade intelectual.
Para a Wikipedia, a legislação proposta irá inibir o acesso das pessoas à informação online. “Este não é um problema que vai afetar as pessoas apenas nos Estados Unidos: ela afetará a todos ao redor do mundo”, causando “sérios danos à Internet livre e aberta”.
Leia mais, em inglês, em
Ainda sobre os dilemas da Internet, quem gosta deve ler entrevista que o sociólogo Manuel Castells (autor da trilogia “A Era da Informação”) concedeu ao programa Europa Abierta, da rádio e TV pública espanhola, e reproduzida no portal “Outras Palavras”. Para sociólogo, breve todo planeta estará conectado; Google e Facebook não são ameaça. Grande desafio é manter liberdade na rede.
TEXTO DIVULGADO ORIGINALMENTE EM

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Crack pode causar preguiça e enfado

O noticiário sobre as ações da Prefeitura de São Paulo e do Governo do Estado para enfrentar o tráfico e o consumo de crack, no centro da capital paulista, contribui, no mínimo, no mínimo, para colocar o assunto em debate e reflexão de todo o País. Quem dedica espaço destacado ao tema, claro, são a Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, entre os jornais.
Na Folha, dia 11, o colunista Igor Gielow, no artigo `Basta “curtir”´, escreve que  “por previsível, quase causa enfado a disputa política sobre a ação na cracolândia paulistana, de resto um imperativo da cidade contaminado desde a saída pelos interesses do combalido governo (Gilberto) Kassab (PSD). Quem sabia do quê, planos mirabolantes. Ah, as eleições”.
Outro parágrafo: “Agora é a vez do governo federal, que busca estabelecer um roteiro adequado às pretensões eleitorais do pré-candidato a prefeito Fernando Haddad (PT): o de que São Paulo meteu os pés pelas mãos e não participou de um esforço coordenado (pelo Planalto, claro) contra o crack”.
“PIROTECNIA”
Estadão, dia 11, informa que o Ministério Público Estadual abriu inquérito para investigar a operação do governo paulista e da Prefeitura na cracolândia. Para os promotores, a ação, “precipitada e aparentemente desastrosa”, é feita à base de cavalos, balas de borracha, dor e sofrimento”. “É pirotecnia”, reagiu o secretário de Estado Antonio Ferreira Pinto (Segurança Pública).
Procurador de Justiça licenciado, Ferreira Pinto criticou o órgão do qual faz parte. “Me sinto à vontade para dizer que essa ação dos promotores foi apenas para se promover”, disse na Folha do mesmo dia. Conforme o secretário do governo Geraldo Alckmin (PSDB), a cidade de São Paulo conta com 1.200 vagas para tratamento de dependentes químicos. Número que ele considera suficiente para atender os usuários da cracolândia.
O plano federal previa polícia na cracolândia só em abril, reporta o Estadão (dia 10). “O cronograma federal para ações na cracolândia, obtido pelo Estado, previa que a polícia só começaria a atuar em abril. A proposta, para ser discutida com os governos estadual e municipal de São Paulo, era fortalecer os serviços de retaguarda em saúde e proteção social a partir de fevereiro. Depois, em abril, seriam criadas bases móveis da PM. Além de São Paulo, estão previstas ações no Rio, no Recife, em Salvador, no Distrito Federal e em Porto Alegre. Como São Paulo interveio na cracolândia já em janeiro, com a PM, acabou não avançando nas discussões com o Planalto. A Secretaria de Justiça paulista informou que não teve acesso a nenhum documento federal com um cronograma para agir na cracolândia”.
SIM OU NÃO
Estadão propôs um debate: a intervenção deveria começar com a PM?
Sim. Eloisa de Sousa Arruda, secretária de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania, afirma que a Polícia Militar é fundamental para quebrar a estrutura logística do tráfico e coibir a atuação dos traficantes. O tráfico, diz, atrapalhava o trabalho dos agentes de saúde.
Não. Ana Cecília Roselli Marques, psiquiatra e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisa sobre Drogas, diz que as ações na cracolândia de São Paulo são caóticas. A polícia, afirma ela, não compreende o papel que deve cumprir.
A PREGUIÇA
No artigo “A droga da preguiça”, dia 9, na Folha, o colunista Vinícius Mota começa com duas afirmações: “O crack é somente um sintoma da exclusão social, e não adianta tratar o efeito sem antes atacar a causa. A “criminalização” e a repressão são inúteis no combate às drogas”.
Diante delas, coloca que “felizmente, a sociedade brasileira passou a desconfiar dessas sentenças derrotistas. Cobra de autoridades, de especialistas e da imprensa modos de ação e raciocínio que possam equacionar questões prementes e circunscritas”.
“A internação involuntária de viciados não dá certo, dizem alguns desses doutores. Pesquisas mostram que o tratamento tem mais chance de sucesso com a adesão do paciente. Mas o expediente é efetivo em situações corriqueiras na cracolândia, em que a pessoa perdeu o senso da realidade. É mais humano levá-la à força e correr o risco de o tratamento falhar do que deixá-la definhar”, escreve Mota.
Na opinião dele, “tática contumaz do especialista preguiçoso é fazer-nos supor que todo problema é muito mais amplo do que parece”. “Não é preciso acabar com a exclusão social nem ter solução nacional para o crack a fim de melhorar bastante a situação calamitosa, mas específica, da cracolândia em São Paulo. O passo inicial é ajustar o foco e recusar a droga da preguiça, oferecida em qualquer esquina”.
A droga da preguiça vai além de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Distrito Federal e Porto Alegre. Está até em cidadezinhas do interior do Brasil, aos olhos daqueles que preferem o preguiçoso “basta curtir”.
FRASES
“A crise atual não é inerente ao chamado “capitalismo”. Ela foi gerada por uma avalanche do pensamento único – o “neoliberalismo” -, apoiado por Estados corrompidos pelo sistema financeiro internacional”. Ex-ministro Delfim Neto, dia 11, na Folha.
“Acorde: só a economia é global. A vida, em geral, é tribal, de “panelas”. Entre ou fique fora delas”. Simplório Silva, um pensador irrelevante, parceiro deste blog.
“O nível de inadimplência não é preocupante, tanto que os bancos continuam emprestando. Se houvesse uma preocupação com relação ao futuro, eles estariam segurando o crédito”. Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, sobre a subida de 21,5% no calote de pagamentos em 2011, a maior alta em nove anos. (Folha, 11.)
TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE EM
José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A culpa é da chuva?

“Nem bem entra o verão e os jornais começam a estampar as fotos de enchentes e a contabilizar os mortos. Começa também, o jogo de empurra. Políticos se apressam a culpar as chuvas “sem precedentes”; a oposição responsabiliza os governantes; e técnicos acusam a ocupação do solo”, escreve na Folha de S. Paulo (3 de dezembro) o colunista Hélio Schwartsman.

Mais adiante, depois de lembrar que humanos, somos péssimos avaliadores de riscos, o jornalista comenta que não que precisemos virar pluviófobos, mas seria bom encontrar maneiras mais eficientes de fazer com que leigos, técnicos e políticos tenhamos uma avaliação mais realista e vívida dos perigos hodiernos. “Um exemplo: o risco relativo de a pior enchente do século ocorrer nos próximos 12 meses é baixo (1%). Poucos além das empreiteiras e a turma dos 10% apoiariam fazer um grande investimento para preveni-la. Mas, se indicarmos a probabilidade de a inundação do século ocorrer nos próximos cinco mandatos (20%), a situação já muda de figura. Desprovidos das defesas instintivas, uma boa comunicação do risco, que mobilize emoções sem falsear os dados, é nossa melhor chance”.
A contagem de mortos e desalojados segue. O Jornal do Brasil (dia 4) conta que as chuvas deixam dez mortos em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. No Rio, 3.108 moradores das regiões afetadas estão desalojados e 707 desabrigados. O número total de deslizamentos chegou a 367 e de casas destruídas, 84. Ainda no JB (dia 5) vem o alarme sobre dique rompe em Campos: 4 mil pessoas serão retiradas de casa.”Mil famílias foram afetadas. Atualmente, 590 pessoas estão desabrigadas no município”.
O uso político de verbas contra a cheia se repete. O Globo escreve, dia 4, que a presidente Dilma Rousseff fez uma intervenção branca no Ministério da Integração Nacional, chefiado pelo pernambucano Fernando Bezerra (PSB-PE). “Em dezembro, o ministério listou 56 cidades do Sul e do Sudeste como prioritárias para receber verbas, mas Pernambuco e Bahia, estado do ex-ministro Geddel Vieira Lima, foram os que mais receberam: R$ 34 milhões e R$ 32 milhões. Só 30% do previsto no Orçamento para prevenir enchentes foram liberados em 2011″.
Minas Gerais, segundo a Folha (dia 4) já tem 53 cidades em emergência. O jornal Estado de Minas traz o balanço da véspera: 5 mortos desde o começo das chuvas e 9 mil pessoas tiveram de sair de casa. O Estado de S. Paulorecorda que denúncias de uso político do Ministério da Integração também ocorreram na gestão de Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Em 2009, a Bahia levou mais de metade da verba contra desastres.
“É PRECISO REZAR”
Correio Braziliense (dia 5) informa que a chuva afeta 2 milhões de pessoas no Rio e em Minas. Ao mesmo tempo, sabe-se, em O Globo, que Nova Iguaçu, no Rio, um dos 56 municípios prioritários para receber verba de prevenção contra enchentes, só ficou com R$ 2,5 mil em 2011. Mais: técnicos do Crea-RJ concluíram que obras de prevenção não foram feitas em Friburgo antes da temporada das chuvas. “Agora é preciso rezar para não ter enchente”, disse Adacto Ottoni.
O Brasil, quase um continente, vive também o drama da estiagem. No Rio Grande do Sul, conforme a Defesa Civil, passa de 235 mil o número de moradores atingidos pela falta de chuva, que também castiga o oeste catarinense, reporta o jornal Zero Hora. “Estiagem põe 39 cidades gaúchas em emergência”.
INTERNET
Adnews, veículo de informação eletrônica, traz dia 4 a manchete: Aeroportos brasileiros podem ser obrigados a ter internet de graça. (Em setembro de 2006, eu a usei, de graça, na Alemanha, para acompanhar o desastre do choque entre um  avião da Gol (voo 1907) e o jato executivo Embraer Legacy 600, em viagem de entrega entrega a um cliente norte-americano, a empresa de táxi aéreo ExcelAire Services Inc. Estava embarcando para o Brasil no aeroporto de Frankfurt, na Alemanha. Morreram todos os 154 passageiros do Gol. Os ocupantes do Legacy saíram ilesos.)
FRASES
“O repasse dos R$ 70 milhões (para Pernambuco) foi discutido com a Casa Civil, o Ministério do Planejamento e com o conhecimento e participação da presidente da Republica”. Fernando Bezerra Coelho, ministro da Integração Nacional, no Correio Braziliense (dia 5).
“É muita cara de pau. Por isso, Dilma ignorou o ministro e chamou de volta a Brasília a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que está dando uma olhadinha nos programas da Integração e das Cidades para prevenção de enchentes, até porque mais de R$ 500 milhões foram desperdiçados”. Eliane Cantanhêde, no artigo “Intervenção nada branca”, na Folha de S. Paulo (dia 5).
“Como é que se leva o usuário de drogas a se tratar? Não é pela razão, é pelo sofrimento. Quem busca ajuda não suporta mais a situação. Dor e sofrimento é que fazem pedir ajuda”. Luiz Alberto Chaves, coordenador de Políticas sobre Drogas, sobre as medidas para tentar esvaziar a cracolândia, que resiste no centro de São Paulo desde os anos 90. (O Estado de S. Paulo, dia 5)
TEXTO DIVULGADO ORIGINALMENTE EM 
José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.
E-mail: joseaparecidomiguel@gmail.com