O tema abaixo, pode crer, tem tudo a ver com o câncer na laringe do mito Lula, os 7 bilhões de habitantes do mundo – e, especialmente, os quase 200 milhões de brasileiros. Ficaria muito constrangido, envergonhado, se parlamentar fosse, ao ler “O petróleo e o futuro do Brasil”, artigo de Helena Nader, biomédica, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e professora titular da Universidade Federal de São Paulo, e Jacob Palis, matemático, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada), publicado na Folha de S. Paulo dia 28 de outubro.
Começa assim: “O país do subdesenvolvimento agradece aos senadores que não mostraram interesse em aplicar a verba dos royalties na construção do futuro da nação”, referindo-se à aprovação em votação simbólica do projeto de lei nº 448, referente à partilha dos royalties do petróleo. “Foi uma decisão que vira as costas para o desenvolvimento do país e despreza nossas futuras gerações. Os senadores optaram pela distribuição de uma riqueza razoável (15% do valor do petróleo extraído) para o governo federal e para todos os Estados e municípios brasileiros mediante critérios frágeis, sem objetivos definidos e sem compromissos com a sociedade. Para se ter uma ideia da falta de objetividade, o projeto de lei nº 448 estabelece que os royalties do petróleo poderão ser gastos com “educação, infraestrutura social e econômica, saúde, segurança, programas de erradicação da miséria e da pobreza, cultura, esporte, pesquisa, ciência e tecnologia, defesa civil, meio ambiente, em programas voltados para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, e para o tratamento e reinserção social dos dependentes químicos”, escrevem Helena Nader e Jacob Palis.
Ambos reconhecem: “Não se discute a importância de cada uma dessas áreas. O problema é a dispersão dos recursos, o que não vai resolver todos os problemas de qualquer das áreas contempladas, muito menos promoverá avanços sociais e/ou econômicos no Brasil como um todo. A proposta que levamos ao Congresso Nacional é diferente. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) propõem que parte expressiva dos royalties do petróleo seja utilizada em áreas que promovam melhorias estruturais e sustentáveis na vida social e econômica do conjunto do país: educação e ciência, tecnologia e inovação (C,T&I)”.
PORTA PARA O CONHECIMENTO
O artigo “O petróleo e o futuro do Brasil” traz mais: “Há consenso em nossa sociedade de que o sistema de ensino brasileiro continua com carências que comprometem gravemente a formação de nossas crianças e jovens. Os royalties do petróleo poderiam ajudar a quitar esse déficit histórico. Já C,T&I demandam investimentos mais expressivos do que os feitos hoje porque são a única porta para ingresso do Brasil na economia do conhecimento -a forma de produção que mais agrega valor aos produtos e serviços. Não bastasse a instituição da distribuição descomprometida dos recursos, o projeto de lei nº 448 tem mais um agravante. Se levado adiante, teremos o fim da destinação de parte dos royalties do petróleo para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)”.
Helena Nader e Jacob Palis reivindicam que a Câmara se manifeste contrária ao projeto de lei aprovado no Senado. “Precisamos que sejam restabelecidas as expectativas de utilizarmos as nossas reservas de petróleo efetivamente para o desenvolvimento social e econômico do País. Os royalties do petróleo demandam uma política de Estado, e não de governo”.
JANELA DA IGNORÂNCIA
A informação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está com câncer na laringe é o principal assunto do país, desde sábado (29). Segundo o oncologista Artur Katz, “as chances de cura são excelentes”, como reporta aFolha (30). Gilberto Dimenstein, do Conselho Editorial do jornal, escreveu que o câncer de Lula o envergonhou. “Senti um misto de vergonha e enjôo ao receber centenas de comentários de leitores para a minha coluna sobre o câncer de Lula. Fossem apenas algumas dezenas, não me daria o trabalho de comentar. O fato é que foi uma enxurrada de ataques desrespeitosos, desumanos, raivosos, mostrando prazer com a tragédia de um ser humano. Pode sinalizar algo mais profundo”.
Dimenstein considera que Lula teve muitos problemas – e merece ser criticado por muitas coisas, a começar por uma conivência com a corrupção. “Mas não foi um ditador, manteve as regras democráticas e a economia crescendo, investiu como nunca no social. No caso de seu câncer, tratou a doença com extrema transparência e altivez. É um caso, portanto, em que todos deveriam se sentir incomodados com a tragédia alheia. Minha suspeita é que a interatividade democrática da internet é, de um lado um avanço do jornalismo e, de outro, uma porta direta com o esgoto de ressentimento e da ignorância”.
CRESCE O MITO
O escritor Ruy Castro, no artigo “Aprender a esperar” (Folha, 31), escreve que o câncer de laringe que o destino colocou à frente de Lula é um duro golpe. “Mesmo os que nunca fizeram juízo tão alto de si mesmos se perguntaram ao ouvir diagnóstico semelhante: “Por que eu?”. (…) Lula teve sorte de seu tumor ter sido percebido cedo e de poder atacar logo o tratamento. Seu problema acontece uma semana depois das denúncias de que o tempo médio para um brasileiro comum, diagnosticado com câncer, começar a ser atendido pelo SUS é de 76 dias para a quimioterapia e de 113 para a radioterapia. O câncer dos brasileiros tem de aprender a esperar”, comenta Ruy Castro.
Muito se vai escrever ainda sobre o caso. O jornalista José Roberto de Toledo, de O Estado de S. Paulo (31), abre seu artigo com objetividade: “O câncer tem 10% de chances contra Luiz Inácio da Silva, mas 0% contra Lula. Do ponto de vista da opinião pública, a doença tende a reforçar o mito, como o tiro no peito transformou Getúlio Vargas de suspeito em herói – com todas as simplificações que isso implica. Nunca é bom subestimar a empatia do brasileiro por quem está perdendo, mas demonstra garra para virar o jogo. Lula intui isso ao dar transparência total à doença desde o diagnóstico”.
Vinícius Mota, na Folha ( dia 31), considera que partidos políticos ainda fazem pouca diferença no Brasil, como atesta o vulto majestoso da imagem de Lula, do mito de Lula, sobre o PT. “É esse mito, por sinal, que a notícia do câncer em sua laringe vem fortalecer. Um tumor aparentemente tratável, como se informa e deseja, a três anos da eleição presidencial ajuda a empurrar as expectativas de alternância no poder para o final desta década – que apenas se inicia”.
HOMEM, MULHER, CRIANÇAS, JOVENS, IDOSOS
Ser humano de número 7 bilhões nasce nas Filipinas e ilustra desafio mundial, destaca o blog SRZD (dia 31) – outro tema muito presente em todo noticiário dos últimos dias. “Uma recém-nascida que nasceu nas Filipinas de nome Danica é simbolicamente o ser humano de número 7 bilhões. A Ásia concentra dois terços da população mundial. Seremos 8 bilhões em 2024, 9 bilhões em 2045, e 10 bilhões em 2100 – quando a população mundial deverá se estabilizar ou cair, em razão da redução de fecundidade, conforme projeção encontrada na revista Veja (2 de novembro, data de capa).
Entre os 7 bilhões, conforme cálculo em paridade de poder de compra, 5% são considerados ricos, 28% estão na classe média (que responde por 45% do consumo mundial), e 67% são pobres. São Paulo é sede da terceira maior megalópole do globo, com mais de 10 milhões de habitantes. A primeira é Tóquio, a segunda, Nova Délhi.
A terra comporta tudo isso? A superfície terrestre tem 13,4 bilhões de hectares de terras produtivas e água potável. O consumo, hoje, é de 2,7 hectares por habitante – seriam necessários, assim, 19 bilhões de hectares de terras e água. Ultrapassa-se quase 50% a capacidade do planeta. O Brasil tem (mais de) 190 milhões 755 mil e 799 habitantes, segundo a sinopse do Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Bom é que o Brasil é o segundo produtor mundial de alimentos. O relatório “O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo”, feito pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) em parceria com o Fundo Internacional  para o Desenvolvimento da Agricultura e com o Programa Alimentar Mundial, recentemente divulgado, prega que “os governos devem garantir um ambiente regulatório transparente e confiável que promova o investimento privado e o aumento da produtividade agrícola”.
Nenhum país tem a área preservada que o Brasil exibe. “Nada menos que 61% de nosso território está como Cabral o encontrou, há 511 anos. (…) Na Europa, por exemplo, essa reserva é de cerca de 0,2%; nos Estados Unidos, de 26%, escreve a senadora Kátia Abreu (Folha, 29), ao denunciar proposta de redução de área de plantio brasileira.
“O que a Câmara dos Deputados constatou – e o Senado há de confirmar- é o mesmo que o relatório da FAO informa: o Brasil foi um dos poucos países em que a segurança alimentar – que também depende de água – continuou a melhorar, passando incólume pela turbulência econômica recente. O que os adversários do Código Florestal propõem – redução da área de plantio – está na contramão da realidade. Lutam pelo agravamento da crise exposta no relatório. Não são movidos pelo bom-senso, mas pela ideologia e pela guerra comercial. O que propõem configura crime de lesa-humanidade. Nada menos”, conclui Kátia Abreu (PSD-TO), principal líder da bancada ruralista no Congresso e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
ÁGUAS DESCONHECIDAS
Como disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a líderes mundiais em Nova York, no mês passado, o 7.º bilionésimo bebê provavelmente será pobre e habitará uma terra maltratada pelos estragos de aquecimento global, desertificação e escassez de alimentos.
“Caramba!”, escreve o jornalista Colum Lynchc, do Foreign Policy, no artigo “E se a população mundial encolher?”, publicado pelo O Estado de S. Paulo (31), com tradução de Celso Paciornik.
“Com esse tipo de retórica apocalíptica, não surpreende que boa parte do foco da mídia tenha sido na tensão de um planeta superlotado onde mais de 79 milhões de pessoas são adicionadas a cada ano à família humana, sobrecarregando cidades já superlotadas, disputando um reservatório de recursos naturais em constante diminuição. Mas e se a população mundial encolher? Embora a população global tenha triplicado desde a criação da ONU,em 1945, as taxas de fertilidade globais nos últimos cem anos declinaram consistentemente, de um pico de 6 filhos por família na aurora do século 20 a 5 em 1950 e 2,5 hoje”.
O articulista escreve que os demógrafos não previram algumas das mudanças demográficas mais importantes do último século, incluindo o primeiro declínio na taxa de fertilidade americana durante a Grande Depressão, o “baby boom” logo depois da 2.ª Guerra e a explosão da migração humana nos anos 1970.
(…) “Uma população em declínio traz benefícios como um desgaste ambiental menor e menos consumo, mas terá também menos trabalhadores para cada aposentado. Isso pode se tornar um fardo financeiro muito grande para os jovens”.   “Não sabemos exatamente como proceder se a população começar a cair como vimos na Rússia, Japão e outros lugares. Navegamos hoje em águas desconhecidas”.
CONTRA O RIO
O fato a seguir macula a imagem de segurança no Brasil e, principalmente, no Rio de Janeiro.
Segundo o Jornal do Brasil (dia 31), a assessoria de imprensa do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) confirmou a informação de que, a convite da Anistia Internacional, o parlamentar e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro nas próximas eleições, deixará o país terça-feira, 1º de novembro. “Responsável pelo indiciamento de cerca de 220 pessoas ligadas a grupo paramilitares no período em que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito das Milícias na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, Freixo recebeu sete ameaças de morte em apenas um mês. A última delas na sexta-feira (dia 28). Por motivos de segurança, o destino da viagem é mantido sob sigilo. Sabe-se apenas que é na Europa”.
José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.