quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

“Pibão”, “pibinho” e vulnerabilidades


A presidente da Republica Dilma Rousseff afirma que fará “o possível e o impossível” para que o Brasil atinja, em 2013, um crescimento de pelo menos 4% na economia, escreve Vera Rosa, em O Estado de S. Paulo (27/12/2012). A reeleição dela depende da economia, avalia a cúpula do PT, que completa agora 10 anos com as rédeas do poder. Há cerca de um ano, precisamente dia 21 de dezembro de 2011, a meta de crescimento, defendida pela presidente, era de 5% para 2012, segundo o mesmo jornal. O ano está acabando com um crescimento de 1% (ou menos) do Produto Interno Bruto, o PIB, o “pibinho” – ou tudo o que o país produz.

Em 2011, o PIB foi de 2,7%, também abaixo do esperado.
Foi, então, o país que menos cresceu na América do Sul, ficando atrás do desempenho de, por exemplo, Argentina (8,8%), Chile (6,0%) e Venezuela (4,2%), segundo estimativas de governos e analistas.
O britânico Financial Times satiriza as previsões sempre otimistas do ministro da Fazenda Guido Mantega. Segundo a Folha de S. Paulo (dia 27/12), em conto de Natal do blog Beyondbrics, colocam como personagens em bate-boca com Papai Noel a presidente Dilma Rousseff, caracterizada como a rena do nariz vermelho, e o ministro Guido Mantega (Fazenda), como “Guido, o elfo vidente”.
PIBÃO? – A Folha, no editorial “Pibão Grandão” (dia 22/12), opina que a presidente Dilma quer que o PIB cresça pelo menos 4% em 2013, mas sua política econômica dificilmente trará expansão acima de 3%. “É dado como provável que o PIB cresça cerca de 3% em 2013, mas o investimento seguirá abaixo de 20% do PIB, quando o necessário seria 25%. O “pibão” de Dilma não virá tão cedo”.
Para o jornal, os juros mais baixos acabarão por incentivar o investimento e a tomada de risco empresarial, um dia, mas persistem as restrições. “Uma delas é a dificuldade do governo em admitir sem meias palavras que depende do setor privado para alavancar investimentos. Outra é a inflação, que persiste acima de 5,5% e pode subir em 2013 se, como é provável, o PIB se acelerar”.
Rolf Kuntz, colunista de O Estado de S. Paulo, escreve (20/12) que é bom olhar além de 2013. Comenta, por exemplo, que o superávit comercial brasileiro deverá diminuir de US$ 19 bilhões neste ano para US$ 17 bilhões em 2013, porque o valor importado ainda crescerá mais velozmente que a receita das vendas ao exterior.
“A indústria nacional crescerá, mas em ritmo ainda moderado e com muita dificuldade para enfrentar a concorrência estrangeira. (…) De toda forma, será indispensável uma taxa maior de investimento para garantir um crescimento mais veloz, provavelmente no intervalo de 3% a 4%. Se governo e setor privado investirem o equivalente a uns 20% do Produto Interno Bruto (PIB), 2013 estará quase certamente salvo. Mas será preciso mais que isso para impulsionar uma expansão na faixa de 4% a 5% por vários anos. Além disso, será necessário cuidar da eficiência e da qualidade do investimento, dois itens amplamente negligenciados no setor público”.
O editorial de O Globo (1/12) traz o título “Confirma-se o esgotamento dos incentivos ao consumo”. E revela alguns números da economia no final de 2012. Exemplos:
- 1% é a previsão de crescimento do PIB para este ano. Já foi o triplo desse valor;
- 18,7% de investimento. A taxa estava em 20% e caiu, preocupando governo e analistas;
2,5% na agricultura foi o melhor resultado entre os setores econômicos no país;
20º lugar do Brasil num ranking de crescimento de 39 países. Perde para os Brics.
O IMPOSTO QUE NÓS PAGAMOS – Há uma boa notícia para o consumidor, ainda que sua edição tenha alcance limitado.  As notas fiscais terão de exibir o valor dos impostos, anuncia O Globo (11/12/2012). Medida entra em vigor em seis meses. A presidente Dilma sancionou lei, mas vetou uso (do valor embutido) referente ao Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL).
“Numa TV de 42 polegadas, por exemplo, o imposto de R$ 890,49 é maior do que o valor para produzir a mercadoria e representa mais de metade do seu custo final, de R$ 1.499”.
Chama constantemente a atenção os números do Impostômetro, painel criado pela Associação Comercial de São Paulo, Federação das Associações Comerciais do Estado de S. Paulo e Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário.
À parte de que os impostos são ferramentas legais para o desenvolvimento dos municípios, dos estados e do país, e à parte a qualidade de aplicação dos recursos públicos, no momento em que escrevo, dia 27 de dezembro de 2012, por volta de 11h20, o brasileiro já pagou, de janeiro até aqui, 1 trilhão, 494 bilhões, 95 milhões, 847 mil , 944 reais em impostos. É um total suficiente para construir mais de 5.187.854 postos de saúde equipados; ou construir mais de 1.299.223 km asfaltados de estradas; ou comprar mais de 55.337.147 carros populares e/ou construir 42.688.700 casas populares de 40 m2. Quem quer detalhes – municípios, estados, por dia, por mês etc. – pode acessar o link do Impostômetro (http://www.impostometro.com.br/), painel que, fisicamente, está exposto no centro de São Paulo.
OS VULNERÁVEIS – Outro tema de interesse para quem acompanha a economia é a propagandeada classe média. No artigo “Chávez, Brasil e os vulneráveis”, publicado na Folha de S. Paulo (18/12) Gustavo Patu escreve que deixar de ser pobre não significa ingressar na classe média. “Uma coisa é dispor do mínimo para comer e morar; outra é poder consumir além do básico e planejar o futuro. (…) Nas estatísticas do governo brasileiro, a classe média já é mais da metade da população do país; os vulneráveis, menos de um quinto. Nessa conta, são chamadas de classe média famílias com renda entre R$ 291 e R$ 1.019 mensais por pessoa. Com régua menos generosa, o Banco Mundial chegou a conclusões bem diferentes: algo como 32% dos brasileiros estão na classe média; os vulneráveis, 38%, são o maior estrato no Brasil e na América Latina”.
O colunista conclui: “Dito de outra maneira, a fatia mais importante do eleitorado da região superou apenas precariamente a pobreza e depende dos governantes para não cair da corda bamba”.
2013 – Resta, por fim, torcer, trabalhar e manter o entusiasmo para que tenhamos todos, brasileiros ou não, um 2013 em que as boas notícias superem as dificuldades presentes em todas as sociedades. Portanto, Feliz Ano Novo.
José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.

TEXTO DIVULGADO ORIGINALMENTE EM