sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

De ranking e de magistratura

“Vai ser engraçado se, em fevereiro, quando for divulgado o resultado do PIB (Produto Interno Bruto), a gente descobrir que o Brasil não se tornou a “sexta maior potência do mundo”, à frente do Reino Unido”. É o que escreve o colunista da Folha de S. Paulo (dia 28 de dezembro), Vinícius Torres Freire, sobre a comemoração oficial a respeito da nova posição brasileira.
Vai ser triste – ou peça do mundo real, creio.
Na mesma edição, o ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que em quatro anos o Brasil poderá desbancar a França e se tornar a quinta maior economia do mundo. “2015 está bom, mas acho que pode ser um pouco antes”.
Torres Freire, porém, lembra que basta uma variação de décimos de PIB e de centavos na taxa de câmbio do real e da libra pelo dólar para reverter o bafafá sobre o gigante que se levantou do berro esplêndido.
É bom ter os pés no chão. O Correio Braziliense (dia 27) destaca que a renda per capita do brasileiro ainda corresponde a menos de um terço dos rendimentos dos britânicos. “Além disso, no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O Brasil está em 84º lugar entre 187 países”.
Segundo o Centro para Pesquisa Econômica e Negócios (CEBH), de Londres, o PIB do Brasil – tudo o que o país produz – deve fechar a ano em US$ 2,51 trilhões, enquanto a da Grã-Bretanha será de US$ 2,48 trilhões, escreve o jornalO Estado de S. Paulo (27).
Financial Times considerou a fato como um “marco”, mas lembrou que “todos os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) ainda estão muito atrás em PIB per capita”, enquanto Mantega festejou a projeção, mas disse que serão necessários até 20 anos para que os brasileiros tenham um padrão de vida semelhante ao dos europeus.
DELÍRIOS
Volto ao artigo de Vinícius Torres Freire. “Nem sempre, como escreveu Paul Krugman, estatísticas econômicas são apenas um tipo tedioso de ficção científica. Rendem também cordéis psicológicos sobre delírios de grandeza”. (…) Se o PIB per capita do Brasil dobrar, chegaremos à renda de “país desenvolvido”, mas ainda algo abaixo dos europeus ocidentais mais pobrezinhos. Para dobrar o PIB per capita em uma década, a economia precisa crescer a mais de 7% ao ano. (…) Crescemos a 4% na média dos oito anos Lula”.
Do básico, escreve, sabemos só que: “1) Deixar a classe dos médios para a dos ricos não é fácil. Não existem várias Coreias do Sul;  2) ignorância, gastos excessivos e endividamento a juro alto jamais deram pão a ninguém. Mas não estamos cuidando nem desse básico”.
Dia 28, na Folha, leio que gasto com dívida no Brasil supera o dos EUA. “Taxas de juros elevadas fazem consumidores brasileiros comprometer fatia maior do salário com financiamentos. Brasileiros gastam 22% da renda com dívidas, enquanto americanos comprometem 16% do orçamento doméstico”.
Para o economista-chefe da Acrefi (Associação das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), Nicola Tingas, isso é resultado de excessos do passado.
“Alguns consumidores foram longe demais no crédito”, afirma o economista. “Isso é bom desde que haja perspectiva de crescimento de renda, mas a inflação tomou parte dos ganhos neste ano e agora a economia começa a desaquecer.”
TOGA
Outro tema que se destacou no noticiário foi a briga interna no Poder Judiciário.
Estado de S. Paulo (dia 28) destaca que o ministro do Superior Tribunal de Justiça Gilson Dipp disse que comparar a ação do Conselho Nacional de Justiça a “ditadura”, como fez Ivan Sartori, que presidirá o Tribunal de Justiça paulista, é “argumento de quem não tem argumento”. Sobre juízes que omitem renda, Dipp afirmou que transparência é obrigação “do presidente da República ao mais humilde barnabé”.
Para O Globo (dia 25), Supremo vê crise como a mais grave do Judiciário desde 1999, quando Comissão Parlamentar de Inquérito investigou Nicolau dos Santos Neto, o “juiz Lalau”. “Historicamente reconhecido como uma cidadela fechada, o Judiciário foi fraturado em decorrência da ação do Conselho Nacional de Justiça de mexer na “caixa preta” dos tribunais, ao inspecionar as folhas de pagamento e declarações de bens de juízes. Estudiosos e juristas vêem na crise um divisor de águas para a magistratura – exposta ao risco de parecer avessa à transparência e defenda de privilégios”.
O Estadão noticia também que, sob a justificativa de proteger a intimidade dos réus, o Supremo Tribunal Federal (STF) apagou de seus registros 89 de 330 ações penais contra autoridades, propostas desde 1990.
TEXTO DIVULGADO ORIGINALMENTE EM
José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.

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