terça-feira, 22 de novembro de 2011

De morcegos, mercado e drogas

O jornalista Lucas Figueiredo, autor de “Morcegos negros” e “Ministério do silêncio”, está tão livre quanto o ex-presidente Fernando Collor (março de 1990 a dezembro de 1992) que renunciou antes de seu impedimento de governar o país, atolado em denúncias de corrupção. “Lucas Figueiredo acaba de pagar e de se livrar da absurda pena a que foi condenado pela Justiça brasileira”, escreve Jornalistas & Cia., edição 820, de 9 a 15 de novembro. O repórter declara que, durante quatro anos, pagou o que devia, em cash, na boca do caixa, religiosamente em dia (deveria ter pago em oito anos e quatro meses, mas  conseguiu quitar algumas prestações adiantado). “Livre, afinal! Tão livre quanto o ex-presidente e hoje senador Fernando Collor. Tão livre quanto todos os corruptos e corruptores do Esquema PC Farias. Tão livre quanto todos eles, com uma exceção: enquanto sou um ex-criminoso, eles são inocentes”.

A publicação eletrônica sobre jornalistas esclarece que Lucas Figueiredo e a Editora Record haviam sido condenados pela Justiça de Alagoas, em 2000, por uma frase contida em “Morcegos negros”, a indenizar por danos morais o juiz Alberto Jorge Correia de Lima (responsável pelo caso da morte do ex-assessor de Collor PC Farias e sua namorada Suzana Marcolino). Diz Lucas que, “na ação, o juiz questionava a frase ‘o juiz Alberto Jorge, que só reclamava, resolveu tomar uma atitude e solicitou à Secretaria de Segurança que indicasse um novo delegado para o caso’. Segundo o entendimento do juiz, ao dizer que ele ‘só reclamava’ eu teria afirmado que ela nada fazia. Sendo assim, por vias tortas, eu teria afirmado que ele prevaricara. A reclamação de Alberto Jorge foi aceita por seus colegas da Justiça de Alagoas, tendo início um processo kafkiano contra mim”.
Collor, hoje senador da base aliada do governo liderado pelo PT, continua presente no noticiário. Dia 17 de novembro, por exemplo, a Folha de S. Paulopublicou que ex-mulher de Collor cobra R$ 280 mil de pensão e que a Justiça de Alagoas tenta notificá-lo há dois anos. Rosane Malta Collor de Mello cobra do ex-marido – de quem se separou em 2005, após 22 anos de casamento – diferença no valor da pensão paga por Collor por dois anos. Em 2007, o Tribunal de Justiça fixou em 30 salários mínimos (R$ 16.350) o valor da pensão.
Como Collor pagava até então um valor inferior, Rosane quer agora receber o total retroativo da diferença. O advogado de Collor, Fábio Ferrário, disse que o senador mora e trabalha em Brasília e não poderia mesmo ser encontrado em Maceió.
O PODER DO MERCADO E A DEMOCRACIA LIMITADA
O noticiário recente de economia mostra que a sociedade deve se precaver. A Itália sofreu um golpe de mercado, escreve Clóvis Rossi (dia 15), na mesmaFolha. Rossi pondera que Silvio Berlusconi aviltou a democracia, mas a sua saída do poder acabou sendo mais uma violência. “Foi um golpe, um golpe de mercado, executado pelo presidente Giorgio Napolitano, sob as ordens do duo Alemanha/França, mas por inspiração do mercado”.
O articulista comenta: “Como sou o inimigo número 1 de teorias conspiratórias, vou tomar como mera coincidência o fato de a Goldman Sachs, gigante do mercado, ter emitido nota, na tumultuada semana prévia à queda, em que dizia: “Um governo técnico [na Itália] teria maior credibilidade na comparação com outros executivos”. Napolitano preferiu um técnico e, ainda por cima, alguém que foi vice-presidente da Goldman Sachs”.
Mais: “É uma saída muito parecida com a da Grécia, em que a dupla Merkozy (Angela Merkel + Nicolas Sarkozy) impôs outro tecnocrata, ex-vice-presidente do Banco Central Europeu, para substituir George Papandreou, o primeiro-ministro que ousara pretender que coubesse ao eleitorado a decisão sobre o pacote de ajuste/socorro, que, afinal, incide diretamente sobre a vida dos eleitores”.
Citado por Clóvis Rossi, José Ignacio Torreblanca (Conselho Europeu de Relações Exteriores), em artigo para o espanhol El País escreveu: “O sentido último da democracia é que o povo governe a si próprio. Por isso, embora um grande número de cidadãos não entenda no detalhe as causas, consequências e possíveis soluções para a crise do euro, tem, sim, clara uma coisa: se democracia significa capacidade de decidir, a capacidade de decisão de nossas democracias é hoje sumamente limitada”.
A FAVOR DAS DROGAS
Enquanto a sociedade é bombardeada de informações diárias sobre a guerra aos traficantes de drogas no Rio de Janeiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu dia 15 o direito de cidadãos realizarem manifestações pela legalização de drogas em todo o Brasil. Por unanimidade dos oito ministros que participaram do julgamento, o STF decidiu que, a partir de agora, a Justiça não poderá proibir protestos e eventos públicos, como as marchas da maconha, segundo o Portal RG.com, usando texto do G1.
O relator do caso, ministro Celso de Mello, defendeu a liberdade de se manifestar desde que seja pacífica e não haja estímulo à violência. Mello defendeu chamadas marchas da maconha que, para ele, não fazem apologia às drogas, apenas promovem um debate “necessário”.
“No caso da marcha da maconha, do que se pode perceber, não há qualquer espécie de enaltecimento defesa ou justificativa do porte para consumo ou tráfico de drogas ilícitas, que são tipificados na vigente lei de drogas. Ao contrário, resta iminente a tentativa de pautar importante e necessário debate das políticas públicas e dos efeitos do proibicionismo”, argumentou. Em seu voto, Mello lembrou, no entanto, que se manifestar em favor da legalização das drogas não quer dizer que, durante as marchas pró-maconha, seja liberado o consumo de drogas. Por mais de uma vez, ele deixou claro que o tribunal não está “legalizando o uso de drogas”.
FRASE
“Enquanto os corruptos brasileiros não vão para a cadeia, ao menos nós, eleitores, ano que vem podemos impedi-los de serem eleitos para funções públicas”. Frei Betto, no artigo “Perfis dos corruptos”, dia 15, na Folha de S. Paulo.
LIVRO
Quem gosta de política brasileira deve ler “O que sei de Lula”, do jornalista José Nêumanne Pinto.Para ele, ex-presidente é o maior político brasileiro e nunca foi de esquerda. O livro aborda ”homem atrás do mito”. Mais detalhes você encontra na entrevista do autor para José Maria Mayrink, de O Estado de S.Paulo, encontrada no link abaixo:

TEXTO EDITADO ORIGINALMENTE EM

José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.

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