segunda-feira, 5 de março de 2012

A coincidência que veio do frio


Madrugada de sábado, 25 de fevereiro de 2012. Locais: jornal O Estado de S. Paulo, com sede no bairro da Casa Verde, na  capital paulista. Muito distante dali fica a Estação Antártida Comandante Ferraz, base brasileira no continente.

Na manhã de sábado, o Estadão publica informação sigilosa de que embarcação brasileira com diesel afunda na Antártida. “Uma chata rebocada pela Marinha afundou em dezembro no litoral da Antártida com uma carga de 10 mil litros de óleo diesel anticongelante, informa o repórter Sérgio Torres. O naufrágio é mantido em sigilo pelo governo. Um compartimento da embarcação armazena o combustível, que não vazou. Ela está a 40 metros de profundidade e a 900 metros da Estação Antártida Comandante Ferraz. Na próxima semana haverá uma tentativa de resgate”.
No dia 26, o mesmo jornal destaca que incêndio destrói base brasileira na Antártida e deixa dois mortos – o fogo começou às 2 horas do sábado, 25.
“A Estação Comandante Ferraz, base militar e científica na Antártida, foi destruída em um incêndio. Havia 60 pessoas na estação, metade delas pesquisadores de universidades nacionais. Dois militares morreram e um ficou ferido. Os outros ocupantes da base escaparam ilesos. O fogo começou às 2h na praça das máquinas, onde funcionavam os geradores, e se alastrou com rapidez. Os sobreviventes foram levados de helicópteros para a base chilena Eduardo Frei e serão transportados por um avião da Força Aérea da Argentina para a cidade chilena de Punta Arenas”.  Inicialmente, “em comunicado oficial, a Marinha não reconheceu as mortes nem a destruição da base”, registra oEstadão.
Segundo informações preliminares da Marinha, um incêndio nos geradores de energia causou a explosão, escreve a Folha de S. Paulo (26).
“Após reduzir verba, governo promete nova base em 2 anos”, traz na mancheteO Globo (26).  “Depois de gastar apenas metade do orçamento previsto para o programa brasileiro na Antártica no ano passado, deixando de aplicar R$9 milhões, o governo promete agora reconstruir em dois anos a Estação Comandante Ferraz. Um incêndio na madrugada de sábado matou dois militares (da Marinha) e destruiu 70% das instalações. Pesquisadores choravam ontem a morte dos companheiros de missão e a destruição de pesquisas. O governo estuda usar o navio polar Almirante Maximiniano como base provisória”.
Os mortos, enterrados no Brasil com honras militares e homenagem da presidente Dilma Rousseff são:
“Sargento Roberto Lopes dos Santos. Era sua 3ª missão na Antártica. Morava em Nilópolis (RJ), gostava de fotografar e tinha 45 anos. Suboficial Carlos Alberto Figueiredo. Baiano de 47 anos, estava na Marinha há 30. Tinha planos de se aposentar em março”.
DESCONHECIDO
A ombudsman da Folha de S. Paulo, Suzana Singer, escreve dia 4 de março, em “A notícia que veio do frio” (inspira o título deste blog), que “o incêndio na Antártida, continente que a Folha visitou recentemente, foi subestimado pelo jornal. “Não se trata de desprezo pelo continente mais frio e desconhecido do mundo.O jornal bancou recentemente uma viagem caríssima de uma dupla de jornalista e fotógrafo à Antártida, relatada na “Serafina” (revista da publicação) de janeiro e devidamente destacada na primeira página”.
Veja (7 de março, data de capa) reduziu o assunto a uma nota na página de “Datas”. “Diversos grupos de pesquisa tiveram seus estudos afetados. Estima-se que mais de 40% do material científico tenha sido atingido”.
Folha retomou o tema dia 5, com a chamada de capa “Inferno no gelo”. “Era 1h de sábado. Um colega pesquisador abriu a porta do quarto e anunciou o incêndio. Saí literalmente com a calça na mão”, conta o cientista Caio Cipro, 30, que acompanhou o resgate de um militar ferido na base brasileira na Antártida, destruída pelo fogo.
O Senado ouve dia 6 de março o ministro da Defesa, Celso Amorim, sobre o acidente, segundo o Valor Online (2).
SIMBÓLICO
De acordo com Cristina Engel de Alvarez, arquiteta que coordenou parte da construção da base Comandante Ferraz, na Antártida, ainda não é possível prever se a nova base ficará pronta em dois ou três anos. “Na Antártida só é possível construir durante o verão. Portanto, as construções só podem começar no ano que vem. Além deste limite por causa do clima, é preciso limpar o terreno, comprar material, a construção também exige toda uma logística de navios que é muito complicada”, disse ao iG (27).
O incêndio que atingiu a Estação Antártica Comandante Ferraz pode ter sido um acidente, mas é simbólico de uma crise no  Programa Antártico Brasileiro (Proantar), diz Jefferson Simões, diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, maior referência da ciência brasileira na Antártida, segundo a Agência Estado (27). “Outros sintomas, diz ele, são o fato de o Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel – essencial às operações no continente gelado – estar quebrado há quase dois meses, no porto de Punta Arenas (Chile), e a barca cheia de combustível que afundou perto da base em dezembro, conforme noticiado pelo Estado“.
Estações da Rússia e da Argentina já tiveram parte destruída por causa de incêndios nos últimos anos.
A Estação Antártica Comandante Ferraz é uma base pertencente ao Brasil localizada ilha do Rei George, a 130 km da Península Antártica, na baía do Almirantado, Antártica. Começou a operar em 6 de fevereiro de 1984, informa aWikipédia.
FRASE
“Foi apavorante, nunca vi nada igual. Foi tudo muito rápido, perdi tudo, até minhas roupas. Não sei se volto”.
Teresinha Abaher, oceanógrafa, lamentando o incêndio na base brasileira na Antártida.  Fonte: Veja.
José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.
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