quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Fora e dentro da escola: “3 + 3 = 7”


Propaganda e tamborins à parte, “apenas 35 cidades brasileiras – 0,6% do País – têm metade ou mais de seus alunos com aprendizado em matemática adequado à série que cursam”, escreve o jornal O Estado de S. Paulo (dia 8 de fevereiro). “No caso da língua portuguesa, esse índice é de 1,2%. Ou seja: apenas 67 municípios apresentam a metade ou mais de seus estudantes com conteúdo satisfatório para o ano da escola em que estão. Isso significa que a grande maioria ainda não aprendeu a identificar o conflito e os elementos que constroem a narrativa de um texto, por exemplo”.

Os dados se referem ao 9º ano do ensino fundamental das redes públicas, são de 2009 e constam do relatório anual do movimento Todos Pela Educação, apresentado dia 7. "É uma crise que estamos vivendo no País, e toda a ineficiência desse sistema acaba desaguando no ensino médio: apenas 11% dos que concluem têm aprendizado suficiente em matemática", afirma Priscila Cruz, diretora executiva do movimento.

A meta do Todos Pela Educação é de que, até 2022, 70% ou mais alunos tenham aprendido o conteúdo ensinado em sua série, escreve o Estadão.

Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, afirma que o problema da aprendizagem depende de um conjunto de fatores, que passa até mesmo pela infraestrutura da escola. "A qualidade do equipamento escolar hoje é muito baixa. Não é só um problema curricular ou de motivação do docente: a escola deve promover a cidadania por meio de sua infraestrutura."

FORA DA ESCOLA

O Brasil tinha 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola em 2010, destaca O Globo (dia 8). “Esses 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola excedem a população do Uruguai. É uma população mais difícil de incluir porque são os estão no campo, em favelas, em bairros muito pobres”, disse Priscila Cruz. O estado que tem o maior percentual de crianças e adolescentes fora da escola é o Acre (15%). Já Rio e São Paulo têm, respectivamente, 6,8% e 7%.

O movimento Todos Pela Educação, que é financiado pela iniciativa privada, desde 2006 acompanha as condições de acesso e alfabetização. “Para isso, estabeleceu cinco metas, que têm prazo final de cumprimento em 2022. Além da meta de incluir todas as crianças de 7 a 14 anos na escola, quer que elas estejam alfabetizadas aos 8 anos, que todo aluno tenha aprendizado adequado à série e que todo jovem tenha concluído o ensino médio até os 19 anos. Quer ainda que o investimento seja ampliado”.


O Estadao.com, dia 19 de janeiro, reporta que o Relatório de Monitoramento de Educação para Todos de 2010, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), mostra que a qualidade da educação no Brasil é baixa, principalmente no ensino básico.

“O relatório da Unesco aponta que, apesar da melhora apresentada entre 1999 e 2007, o índice de repetência no ensino fundamental brasileiro (18,7%) é o mais elevado na América Latina e fica expressivamente acima da média mundial (2,9%)”.

No ranking geral do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil é o 53º colocado entre os 65 países participantes, segundo o Brasil Escola.

“O analfabetismo funcional de pessoas entre 15 e 64 anos foi registrado em 28% no ano de 2009 (IBOPE); 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não conseguem ler (Todos pela Educação); 20% dos jovens que concluem o ensino fundamental, e que moram nas grandes cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita (Todos pela Educação). Professores recebem menos que o piso salarial”, detalha trecho de texto da pedagoga Eliane da Costa Bruini, do Centro Universitário Salesiano de São Paulo e colaboradora do Brasil Escola (17 de setembro de 2011).

PROFESSORES

“Já sabemos que não basta, como se pensou nos anos 1950 e 1960, dotar professores de livros e novos materiais pedagógicos. O fato é que a qualidade da educação está fortemente aliada à qualidade da formação dos professores. Outro fato é que o que o professor pensa sobre o ensino determina o que o professor faz quando ensina. O desenvolvimento dos professores é uma precondição para o desenvolvimento da escola e, em geral, a experiência demonstra que os docentes são maus executores das ideias dos outros. Nenhuma reforma, inovação ou transformação – como queira chamar – perdura sem o docente”.

“Mudanças profundas só acontecerão quando a formação dos professores deixar de ser um processo de atualização, feita de cima para baixo, e se converter em um verdadeiro processo de aprendizagem, como um ganho individual e coletivo, e não como uma agressão”, reflete Eliane da Costa Bruini.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, comentou para a imprensa o relatório do Todos pela Educação. Mercadante disse que o problema de crianças e jovens fora da escola se concentra na pré-escola e no ensino médio, e que o governo trabalha nessas duas frentes: por um lado, quer acelerar o ProInfância. De outro, aposta na oferta de ensino técnico-profissionalizante para quem cursa o ensino médio.


TEXTO DIVULGADO ORIGINALMENTE NO ENDEREÇO



José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.

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