quarta-feira, 24 de julho de 2013

Além do papa Francisco

Retomo meu blog na semana em que o papa Francisco visita o Brasil. Francisco é capa de três das quatro mais destacadas revistas de informação do país (data de capa, 24/7/2013). Na Veja, com a manchete “O papa dos pobres”; na CartaCapital, “O papa renovador”, e na Época, “10 lições de vida do papa”.

IstoÉ optou por reportar sobre “O propinoduto do tucanato paulista”, revelando “documentos exclusivos” sobre esquema de corrupção montado há quase vinte anos para desviar dinheiro de obras do metrô e dos trens metropolitanos de São Paulo, em conexões em paraísos fiscais, pagamentos para empresas de fachada e saques na boca do caixa. Parte do cartel, a Siemens denunciou o esquema, que envolve multinacionais e já arrecadou pelo menos R$ 50 milhões, segundo a revista.
IstoÉ destaca ainda uma matéria de saúde – “A mais importante vitória contra a Síndrome de Down” – e outra sobre tortura, “Por que o Brasil mantém em suas delegacias as mesmas práticas que massacraram presos políticos”.
CONCHAVOS
Além do papa, Veja traz o texto “O rato roeu o ronco da rua”. Segundo a revista, “dinheiro público para financiar campanhas políticas, proteção aos mensaleiros, ajuda aos fichas-sujas, truques para escapar dos julgamentos do Supremo Tribunal Federal… As pragas tradicionais voltaram a roer a pauta do Congresso Nacional. (…)
Na semana passada, escreve a revista, a agenda positiva do Parlamento sofreu um ataque especulativo de pragas que surgiram de muitos lados. No lugar da pauta sintonizada com a sociedade, que previa ações contra políticos condenados e maior transparência nos procedimentos do Legislativo, moveram-se propostas destinadas a fragilizar a legislação eleitoral e favorecer os conchavos com o dinheiro público”.
CLASSE MÉDIA?
Classificar vastos contingentes da população como de “classe média”, em vez de “pobres”, faz qualquer governo parecer mais eficaz. No texto “E você, é da classe média?”, a revista Época escreve que a consultoria Ernest & Young (EY) chegou a uma definição própria, a partir de estudos iniciados em 2010 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“Num relatório recente, a EY denomina como pertencentes à “classe média global” os indivíduos com rendimento diário entre US$ 10 e US$ 100, uma renda mensal equivalente, agora, à faixa entre R$ 660 e R$ 6.600. O governo brasileiro considera de classe média os cidadãos com renda entre R$ 291 e R$ 1.019 (definição dada em 2012 pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, ligada à Presidência da República). Pelo critério do governo, a classe média é maioria no Brasil: 53% dos habitantes. Pelo critério da EY, encolhe para 41%, e os pobres são a maior parte da população”.
Época considera que o critério da EY é tão atacável quanto qualquer outro. “Tem a seu favor o objetivo de aplicação prática: presente em 140 países, a consultoria tem de orientar seus clientes, interessados unicamente em vender”.
Para o Banco Mundial, pertence à classe média quem tem rendimento diário entre US$ 2 e US$ 13 (o equivalente a uma renda mensal entre R$ 132 e R$ 858).
CONSELHEIROS
CartaCapital, em editorial de Mino Carta, afirma que o Brasil precisa de melhores escolhas e a presidenta Dilma, de conselheiros mais competentes.
“Saio de trem-bala. É um objetivo da presidenta Dilma. Ou seria o caso de dizer xodó? Ela o quer a todo custo, para ser preciso 50 bilhões de reais, à velocidade de 200 milhões por quilômetro construído. Agora vejamos. São Paulo, uma das cidades mais caóticas do mundo, dispõe de 70 quilômetros de metrô. Tivesse 300, a vida do paulistano melhoraria extraordinariamente”.
O jornalista explica que as recentes manifestações de rua alegavam entre seus motivos os gastos exorbitantes para a realização da Copa das Confederações, enquanto, por exemplo, mais da metade da população não é alcançada pelo saneamento básico. “Se os propósitos das passeatas frequentemente pareciam obscuros, este seria nítido e justificado. Como a queixa contra o aumento das passagens de ônibus. E nem teríamos como decente, aceitável em um país democrático e civilizado, um transporte público como o nosso mesmo fosse de graça”. Segundo o editorial, até anteontem, ou pouco mais, o Brasil era apontado mundo afora como um país de progresso acelerado”.
“O mundo costuma enganar-se em relação ao Brasil, na mesma medida em que o Brasil se engana em relação ao mundo. A globalização tem suas falhas. O mundo não sabe, por exemplo, que há 20 anos empresas brasileiras produziam eletrodomésticos de excelente qualidade e hoje não mais. Erros de política econômica desencadearam efeitos fatais para a nossa indústria, e não bastam as perspectivas do pré-sal para apresentar o País como terra prometida”.
A revista se posiciona. “Um ano e um mês e meio antes das eleições, CartaCapital abala-se a afirmar que a continuidade de Dilma é, na nossa opinião, da conveniência do Brasil. Permite-se esperar, contudo, que a presidenta seja menos irrecorrível nas suas decisões, ou, por outra, aberta ao benefício da dúvida e, portanto, ao reestudo em busca da solução certa. E que, rapidamente, escolha conselheiros mais competentes”.
VOTO DISTRITAL
“O voto distrital com “recall” é a reforma que inclui todas as outras reformas. São “eles” que passam a ter medo de você, e não o contrário. (…) A expressão tem exatamente o mesmo sentido e propósito em política e em administração pública que tem no comércio de automóveis: “Troque o seu político com defeito (de caráter, de comportamento, de desempenho) por outro novo antes que ele provoque um desastre”.
Trecho de artigo do jornalista Fernão Lara Mesquita, publicado na Folha de S. Paulo, dia 23/7/2013. Mesquita é um dos acionistas do jornal O Estado de S. Paulo. Link do artigo na íntegra:
REVOLUÇÃO
“Questões como esquerda e direita estão superadas. Quem deflagrou tudo isso (manifestações de protesto) foi a classe média. Quem faz a revolução é a classe média”.
Ferreira Gullar, poeta, jornalista, um dos organizadores da Passeata dos Cem Mil, em 1968, em entrevista para a IstoÉ.
AMERICANOS
“Agora vem o governo fazendo cara de que nunca soube. Mentira”.
Fernando Francischini, deputado federal (PEN-PR) e ex-delegado da Polícia Federal, dizendo, em Veja, que as autoridades brasileiras sempre souberam das ações (de órgãos de inteligência) dos americanos no Brasil e que muitas vezes se beneficiaram delas para a solução de crimes cometidos aqui.
José Aparecido Miguel, sócio da Mais Comunicação, www.maiscom.com, é jornalista, editor e consultor em comunicação.
TEXTO DIVULGADO ORIGINALMENTE EM
www.outraspaginas.com.br

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